BOA NOTÍCIA
Finalmente, tivemos direito a uma boa notícia. A economia portuguesa está a crescer, há três trimestres consecutivos, acima da média da União Europeia. Não significa isso que temos as portas do paraíso escancaradas, aí à nossa frente, mas sempre é melhor estar a crescer do que estar a contrair. Penso mesmo que há que encarar esta notícia com alguma prudência, não só porque é inteiramente devida ao crescimento das exportações, especialmente para a Alemanha – que está a crescer economicamente mais rápido do que nós – mas também porque são conhecidas as causas que estão na origem desse crescimento e elas podem modificar-se já aí no futuro próximo.
Tentando explicar isto o mais simplesmente possível, podemos imaginar Portugal como uma fábrica que, para sobreviver, tem que produzir o suficiente para pagar as matérias primas, a electricidade, a água, as máquinas e os salários. Enquanto chegam encomendas que ocupam completamente a produção da fábrica, todos vão vivendo tranquilos. Mas, se as encomendas começam a falhar, a certa altura a fábrica já não produz o suficiente para pagar aquilo tudo. E os primeiros sacrificados são os trabalhadores que ou vêem o pagamento dos seus salários atrasado ou chegam mesmo a ficar sem o emprego. Com Portugal, foi isso que se passou. Deixou de haver encomendas. Os salários em atraso e o desemprego foram a consequência.
Para não deixar que se chegue ao ponto em que a fábrica fecha, o que faz o patrão da fábrica da nossa história? Vai ao banco e pede dinheiro que injecta na fábrica, para aguentar a situação de crise. O mesmo fez Portugal (e os outros países atingidos pela crise): meteu dinheiro na grande fábrica que o país é. E por causa disso, a produção cresceu, os salários começaram a deixar de estar atrasados e o desemprego parou de crescer.
Mas há um grande ponto de interrogação nisto tudo. É que quando se vai pedir ao banco, fica-se endividado e, depois, é preciso pagar. Ora bem. Por força do esforço feito para combater a crise, Portugal está muito endividado. Será que o crescimento económico vem a tempo e em medida suficiente para permitir que o país se volte a equilibrar? É uma incógnita. Esperemos que sim. E, enquanto esperamos, pensemos como o meu falecido pai, que sempre dizia: enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. Folguemos, pois, com a boa notícia do último fim-de-semana.
Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 17/11/2009
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