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15.2.10

MEMÓRIA

OS FEUDOS

Tenho-o afirmado aqui muitas vezes. Grande parte dos políticos, quando providos de algum poder, pensam que esse poder lhes dá o direito de administrarem a coisa pública como se fosse a sua quinta particular. E fazer o que muito bem lhes dá na gana. É verdade que, nesta democracia que vamos vivendo, não há poder que não seja fiscalizado, para evitar precisamente os abusos. Mas, como vamos vendo também, só há verdadeiramente uma fiscalização do poder que funciona. A da comunicação social. A qual, por seguro, apenas apanha as faltas uma vez por outra. Por aí podemos ver como andará o nosso país. Muito pior do que, semana atrás de semana, eu aqui vou dando conta.

O que se passou, no escândalo do acesso à Faculdade de Medicina da filha do Ministro dos Negócios Estrangeiros, é demasiado triste e desvergonhado. Porque precisou da coligação da vontade de dois ministros. Porque se tratou duma ilegalidade. Porque, mesmo que não fosse ilegal, seria sempre imoral. Porque se tratou da Faculdade de Medicina, exactamente aquela onde é mais difícil entrar e onde a referida menina nunca entraria em condições normais. Porque a Faculdade de Medicina é a mais apetecida. Porque prejudicou um terceiro, precisamente o aluno que teve que ficar de fora para satisfazer a vontade da filha do Senhor Ministro.

Estou envergonhado. Por ser português. Por ter, vá lá, alguma simpatia por este Governo, a tentar tirar Portugal do buraco onde os socialistas o meteram. Simplesmente, por ser cidadão duma pátria onde a desvergonha não poupa ninguém, não escapa a ninguém. Tenho, por força dos meus que-fazeres profissionais, contactos com muitos cidadãos de outros países. Muitos me perguntam como é que uma coisa destas acontece. A minha resposta é o silêncio. Não sei. Ou melhor, sei. No Portugal de hoje, ninguém olha a meios para conseguir os seus fins.

O Ministro da Educação assumiu as suas responsabilidades. Demitiu-se. O dos Negócios Estrangeiros assobiou para o lado. Ou melhor. Com petulância, afirmou, na nossa cara, que podíamos estar descansados porque a filha dele ia estudar para o estrangeiro. O que merece dois comentários. O primeiro, é que ainda bem que é rico e pode colocar a filha a estudar no estrangeiro. Pode até ser que fique por lá. É pouco, mas Portugal sempre melhora um bocadinho. O segundo, é que, nem mesmo assim estou descansado. Só o estarei quando o Senhor Ministro abandonar um governo para integrar o qual não mostrou ter dignidade suficiente.

Dois comentários marginais. O que se passa com o acesso às Faculdades de Medicina é outro escândalo. Apesar de lutarmos com falta de médicos, teima-se em não formar mais. Provavelmente, por força do lobby dos médicos, a quem a concorrência seguramente reduziria os ganhos. Depois, houve comentadores que me meteram asco. Como por exemplo, o ex-ministro Manuel Carrilho, do PS. Censurou a falta de ética dos dois ministros envolvidos nesta triste história, esquecido de que ele próprio, quando era ministro, autorizou um contrato do Estado, cujo fim não se percebia bem, com uma empresa a que estava ligada a sua namorada, proporcionando a esta chorudos proventos.

Está visto. Só mesmo as moscas é que mudam.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, 7/10/2003

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou plenamente de acordo com o artigo.

A partir do momento em que se apanham no poder esquecem e rasgam todas as promessas que efectuaram.

O estado de direito terminada e a democracia é simplesmente abolida.

Em Matosinhos assiste-se exactamente a isso com o poder autárquico. O já famoso projecto de urbanização de cabanelas é um exemplo evidente desta falta de democracia.

O Dr. Guilherme Pinto, socialista puro e duro nas suas convicções, várias vezes declamou dizendo que jamais se abataria no concelho qualquer área verde.

Também disse com um bonito tom de voz que todos os munícipes teriam a não menos de 500 metros um espaço verde disponível para toda a população mas particularmente para as crianças e para os idosos.

Palavras bonitas tem o Dr. Guilherme Pinto. Mas isso é quando está fora porque quando está dentro o negócio e o dinheiro fácil tudo prevertem. É lamentável a contradição quando diz que vai priveligiar o desenvolvimento sas pequenas e médias empresas do concelho e pelo contrário dá sempre primazia ao desenvolvimento de uma grande empresa que se chama FDO-Vivaci e que ainda por cima é de braga.

Nem sequer ajuda o concelho.

Porque será que isto acontece?

Atente-se no que se passou com esta empresa e a Câmara Municipal da Maia no famoso projecto de construção do shopping das guardeiras. Ao que se sabe alguns dos dirigentes autárquicos tinham em cash e em sua casa milhares de euros. Como é que isto é possível?

Era necessário uma profunda investigação na autarquia. Chame-se o semanário SOL ou a JUDICÁRIA