. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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31.12.06
FRASE DO DIA
"São as mulheres que escolhem os homens."
MARGARIDA REBELO PINTO - Jornal de Notícias, 31/12/2006
*****
Acho que tem razão....
PENSAMENTO DO DIA
Em pleno decurso de negociações para a paz, a ETA faz explodir uma poderosa bomba no recém-inaugurado Terminal 4 do Aeorporto de Barajas, em Madrid, matando duas pessoas e ferindo dezenas.
E ninguém pergunta a esse paladino do diálogo com terroristas, chamado Mário Soares, o que tem a dizer sobre o facto...
E ninguém pergunta a esse paladino do diálogo com terroristas, chamado Mário Soares, o que tem a dizer sobre o facto...
30.12.06
ILUSOES
PENSAMENTO DO DIA
Na Nazaré, deixámos seis homens morrerem na praia. Não consigo furtar-me a este violento sentimento de culpa.
A FRASE DO DIA
"Os médicos controlam-se a si próprios. Não trabalham para uma entidade patronal, a sua entidade patronal são os doentes."
BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS - 29/12/2006 - RTP (a propósito do controlo de entrada no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos)
***
Pobres deles se a sua entidade patronal fossem os doentes. Muitos já teriam sido despedidos.
BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS - 29/12/2006 - RTP (a propósito do controlo de entrada no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos)
***
Pobres deles se a sua entidade patronal fossem os doentes. Muitos já teriam sido despedidos.
29.12.06
RETALHOS LITERARIOS
Há duas coisas que eu gostava de dizer-lhes, antes de falar no que me traz aqui. A primeira é que não adianta as senhoras convidarem-me para lhes falar de temas técnicos.
A técnica, seja no que for, só serve para destruir a emoção do imprevisto, para transformar cada um de nós, e eventualmente, num cidadão bem comportado dum qualquer admirável mundo novo, para estereotipar o gesto, para igualizar o ser, para destruir a criatividade. A técnica é a norma ao serviço da produtividade, nunca da criatividade. Um pintor técnicamente apetrechado, pode colocar numa tela uma pintura formalmente perfeita e, todavia, não ter feito arte. É isso. A técnica nunca será arte. Embora a arte possa requerer técnica.
Quero eu com isto dizer que devem desconfiar de quem seja um fanático da técnica. Felizmente, o ser humano é muito mais valioso e versátil do que a peça dum qualquer maquinismo. É sempre capaz, ele, ser humano, dum toque de génio, duma pincelada nova, duma nota nova na escala da Vida. É sempre capaz de ir para além daquilo que já foi inventado antes dele.
E não pensem que isto não tem que ver com o tema que me propuseram. Porventura, será até a única coisa, relacionada com o tema proposto, de que me ouvirão falar. Afinal, o processo de decisão é, ainda ele, um processo de fabricação da qual algum produto há-de resultar.
Porque sou avesso à primazia da técnica, não adianta convidarem-me para lhes falar de temas dessa natureza. Sempre encontrarei modo de lhes escapulir, sem cometer a indelicadeza de recusar um convite que sempre me honra.
A segunda nota prévia, que entendo dever deixar, está relacionada com a primeira. Havendo que fugir à estopada duma enfadonha charla de xxx e yyy, cumpria encontrar um tema que fosse agradável. Viradas e reviradas as alternativas, acabei por me centrar numa. Eu ia falar para senhoras na sua generalidade, todas jovens seguramente. Um tema apropriado, tanto por ser agradável, como por ser polémico, era o casamento. Diria mesmo, por ser agradavelmente polémico. Ou polémicamente agradável. Às vezes, agradável primeiro e polémico depois. Ponderados os prós e os contras, decidi-me. Ia gastar o tempo benevolamente cedido pela vossa atenção, falando do casamento, cumprindo assim o fim da minha vinda aqui.
É curioso como, se eu quisesse falar do processo de decisão, tinha já todos os ingredientes necessários. Um fim a conseguir, vários modos alternativos para o atingir, ponderação das vantagens relativas de cada um desses modos, produção da decisão e implementação da decisão. Só faltaria, neste ponto, o controlo da execução e a verificação do grau com que o fim fora atingido. Mas isso só poderia ser feito daqui a pouco. Mas eu não quero enveredar por esse caminho. Eu queria, quero falar de algo menos estéril. Quase sempre. O casamento. E é disso que vou falar-lhes.
Casar é uma decisão difícil. Porventura das mais difíceis que temos de produzir durante a nossa vida. Um parêntesis aqui. Para dizer que a vida duma pessoa não é senão um encadeado permanente de decisões consecutivas. Um bébé recém-nascido, quando procura o biberão, está a produzir uma decisão. Entre a alternativa de chuchar secamente no dedo, geralmente o polegar, ou alimentar-se na protuberância de borracha. Como em qualquer outra decisão, ele tem um fim em vista - alimentar-se - e escolhe entre alternativas à sua disposição. Acontece que ele não sabe que uma das alternativas não conduz ao fim desejado. E não sabe porque a informação que utiliza, inconscientemente, trazida dos alvores da humanidade, embora perfeita, não pode contar com a interpretação esclarecida da sua inteligência. Por isso erra, por vezes, escolhendo o dedo como se de biberão se tratasse.
(A CONTINUAR)
Excerto da conferência O PROCESSO DE DECISÃO - Magalhães Pinto - Vila Real - Novembro de 1993
A técnica, seja no que for, só serve para destruir a emoção do imprevisto, para transformar cada um de nós, e eventualmente, num cidadão bem comportado dum qualquer admirável mundo novo, para estereotipar o gesto, para igualizar o ser, para destruir a criatividade. A técnica é a norma ao serviço da produtividade, nunca da criatividade. Um pintor técnicamente apetrechado, pode colocar numa tela uma pintura formalmente perfeita e, todavia, não ter feito arte. É isso. A técnica nunca será arte. Embora a arte possa requerer técnica.
Quero eu com isto dizer que devem desconfiar de quem seja um fanático da técnica. Felizmente, o ser humano é muito mais valioso e versátil do que a peça dum qualquer maquinismo. É sempre capaz, ele, ser humano, dum toque de génio, duma pincelada nova, duma nota nova na escala da Vida. É sempre capaz de ir para além daquilo que já foi inventado antes dele.
E não pensem que isto não tem que ver com o tema que me propuseram. Porventura, será até a única coisa, relacionada com o tema proposto, de que me ouvirão falar. Afinal, o processo de decisão é, ainda ele, um processo de fabricação da qual algum produto há-de resultar.
Porque sou avesso à primazia da técnica, não adianta convidarem-me para lhes falar de temas dessa natureza. Sempre encontrarei modo de lhes escapulir, sem cometer a indelicadeza de recusar um convite que sempre me honra.
A segunda nota prévia, que entendo dever deixar, está relacionada com a primeira. Havendo que fugir à estopada duma enfadonha charla de xxx e yyy, cumpria encontrar um tema que fosse agradável. Viradas e reviradas as alternativas, acabei por me centrar numa. Eu ia falar para senhoras na sua generalidade, todas jovens seguramente. Um tema apropriado, tanto por ser agradável, como por ser polémico, era o casamento. Diria mesmo, por ser agradavelmente polémico. Ou polémicamente agradável. Às vezes, agradável primeiro e polémico depois. Ponderados os prós e os contras, decidi-me. Ia gastar o tempo benevolamente cedido pela vossa atenção, falando do casamento, cumprindo assim o fim da minha vinda aqui.
É curioso como, se eu quisesse falar do processo de decisão, tinha já todos os ingredientes necessários. Um fim a conseguir, vários modos alternativos para o atingir, ponderação das vantagens relativas de cada um desses modos, produção da decisão e implementação da decisão. Só faltaria, neste ponto, o controlo da execução e a verificação do grau com que o fim fora atingido. Mas isso só poderia ser feito daqui a pouco. Mas eu não quero enveredar por esse caminho. Eu queria, quero falar de algo menos estéril. Quase sempre. O casamento. E é disso que vou falar-lhes.
Casar é uma decisão difícil. Porventura das mais difíceis que temos de produzir durante a nossa vida. Um parêntesis aqui. Para dizer que a vida duma pessoa não é senão um encadeado permanente de decisões consecutivas. Um bébé recém-nascido, quando procura o biberão, está a produzir uma decisão. Entre a alternativa de chuchar secamente no dedo, geralmente o polegar, ou alimentar-se na protuberância de borracha. Como em qualquer outra decisão, ele tem um fim em vista - alimentar-se - e escolhe entre alternativas à sua disposição. Acontece que ele não sabe que uma das alternativas não conduz ao fim desejado. E não sabe porque a informação que utiliza, inconscientemente, trazida dos alvores da humanidade, embora perfeita, não pode contar com a interpretação esclarecida da sua inteligência. Por isso erra, por vezes, escolhendo o dedo como se de biberão se tratasse.
(A CONTINUAR)
Excerto da conferência O PROCESSO DE DECISÃO - Magalhães Pinto - Vila Real - Novembro de 1993
A FRASE DO DIA
"Ainda não sabemos como tudo isto vai acabar. Mas o primeiro-ministro tem demonstrado uma grande coragem."
António Sousa Franco - Magazine DIA D - 29/12/2006
Já temos a segunda edição de Cristóvão Colombo, o qual não sabia para onde ia, não sabia por onde ia, nem sequer soube onde estava quando chegou, mas fez a viagem com grande coragem.
António Sousa Franco - Magazine DIA D - 29/12/2006
Já temos a segunda edição de Cristóvão Colombo, o qual não sabia para onde ia, não sabia por onde ia, nem sequer soube onde estava quando chegou, mas fez a viagem com grande coragem.
PENSAMENTO DO DIA
Periódicos mais vendidos em Portugal, em 2006: MARIA e BORDA D'ÁGUA. Este sim, é o meu país bem amado.
28.12.06
UM POEMA PARA RECORDAR
Pessoa amiga fez-me chegar o inesquecível poema que abaixo se transcreve, com a recomendação de que vale sempre a pena recordá-lo. Estou de acordo e partilho-o com todos os outros Amigos que acorrem a este espaço.
***
SE...
Se podes conservar o teu bom senso e a calma
Num mundo a delirar, para quem o louco és tu.
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê.
Se vais, faminto e nu, trilhando sem revolta um rumo solitário.
Se à torva intolerância, se à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bençãos de perdão.
Se podes dizer bem de quem te calunia.
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afectação de um santo que oficia,
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor.
Se podes esperar, sem fatigar a esperança.
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho.
Fazer do pensamento um arco de aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho.
Se podes encarar com indiferença igual,
O triunfo e a derrota, eternos impostores.
Se podes ver o bem oculto em todo o mal.
E resignar sorrindo o amor dos teus amores.
Se podes resistir à raiva, e à vergonha,
De ver envenenar as frases que disseste,
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha,
Com falsas intenções que, tu, jamais lhe deste.
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo.
Se podes obrigar o coração e os músculos,
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo já, afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante.
Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre.
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre,
São iguais para ti, à luz da eternidade.
Se quem conta contigo encontra mais que a conta.
Se podes empregar os sessenta segundos
Dum minuto que passa, em obra de tal monta,
Que o minuto se espraie em séculos fecundos.
Então ó ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!
Mas 'inda para além um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos!
Pairando numa esfera, acima deste plano!
Sem recear jamais que os erros te retomem.
Quando já nada houver em ti que seja humano.
Alegra-te, meu filho, então... serás um homem!...
Rudyard Kipling - tradução de Félix Bermudes
TESTE
Se eu lhe disser:
"TUDO O QUE LHE DISSER É MENTIRA"
estou a falar verdade ou a dizer uma mentira?
*
(respostas durante uma semana, com endereço de e-mail para quem quiser um livro oferecido se acertar)
"TUDO O QUE LHE DISSER É MENTIRA"
estou a falar verdade ou a dizer uma mentira?
*
(respostas durante uma semana, com endereço de e-mail para quem quiser um livro oferecido se acertar)
A FRASE DO DIA
"Este ano, provavelmente ficaremos abaixo dos mil mortos (na estrada). É uma meta que nos deixa com algum contentamento."
Secretário de Estado da Administração Interna - Público
Uma dúvida: haveria festejos se ficasse abaixo dos dois mil?
Secretário de Estado da Administração Interna - Público
Uma dúvida: haveria festejos se ficasse abaixo dos dois mil?
PENSAMENTO DO DIA
A Educação degradou-se tanto no nosso país que até, na Europa, Portugal passou de aluno exemplar a exemplo a não seguir, segundo recomendação, segundo documento publicado pela Comissão Europeia.
27.12.06
FRASE DO DIA
"Há uma guerra suja envolvendo a Ciência e a tomada de decisões."
David Gee - Agência Europeia do Ambiente
Ou me engano muito ou "isto" vai aquecer...
David Gee - Agência Europeia do Ambiente
Ou me engano muito ou "isto" vai aquecer...
PENSAMENTO DO DIA
Isto vai! Nova entrada na lista dos esforçados combatentes na batalha contra o défice público: os pescadores desportivos. Licenças ao preço da pescada para apanhar fanrcas.
26.12.06
RETALHOS LITERARIOS
... dava-lhe ares meu do meu velhote que estranho dado que o meu velhote uma bicicleta tombada com a qual a minha mãe se embravecia, não me apetece que chova, para quê chover, não necessito do telhado, do alpendre, da janela, das folhas, na janela malvas, campos, não distingo os algarismos do relógio, distingo os pontinhos dos segundos, o cotovelo do meu marido que se afasta da cara e ele pela primeira vez desde há anos a olhar-me, a espantar-se de olhar e continuando a olhar-me, a mão dele no espaço do meu corpo entre o ombro e o peito, vontade de apertá-la com a minha mão contra mim
- Aleija-me
apesar de eu uma cadela habituada a roçar a miséria do ventre aberto no chão não por desejo, outra coisa, nunca tive desejo nem me apeteceu que um cachorro, era o cerebelo ou o timo, não eu, eu ausente conforme a minha mãe ausente
- Que sina
não sei o que pensam os cães e não sei o que penso, o cerebelo e o timo levantam-me a garupa e separam-me as coxas enquanto eu, palavra de honra, imóvel diante da cómoda de Vila Viçosa ou de Elvas com as pegas de metal...
Excerto de ONTEM NÃO TE VI EM BABILÓNIA - António Lobo Antunes - página 352
****
Basta. Há alturas intelectuais aonde não chego. Kafka é o meu limite.
PENSAMENTO DO DIA
Terminou a época dos patos bravos. O projecto de Lei que obrigará à certificação dos construtores imobiliários e à apresentação de um seguro em favor dos compradores de imóveis, com validade a partir do contrato promesso de compra e venda, é uma das mais sérias medidas assumidas neste dom«inio desde sempre.
25.12.06
CRONICA DA SEMANA
É legítimo ter ambição. Desejar ser melhor, maior, mais poderoso. A ambição é um motor do progresso humano. Mas há, pelo menos, dois tipos de ambiciosos. Aqueles que, desejando ser melhores, respeitam os outros e são incapazes de ofender os seus direitos. E há aqueles que não respeitam nada nem ninguém para atingirem os seus objectivos, Enquanto os primeiros merecem a nossa admiração, os seguintes não podem senão merecer o nosso desprezo e, mesmo, o nosso esforço para que sejam metidos na ordem.
Narciso Miranda pertence à segunda classe, à daqueles que não respeitam nem pessoas, nem sentimentos, nem regras de convivência, para atingir os seus fins. Como a maioria dos matosinhenses sabe, entreteve-se este Natal a enviar para quase todos eles um postal de Boas Festas, no qual, melifluamente, jogava com palavras bonitas como quem brinca com papéis velhos e sujos. Havia, nesse postal, um bacoco apelo aos sentimentos, numa velha e relha táctica de se fazer associar à beleza da festividade do Natal. Só em minha casa, foram recebidos três desses cartões. O pior foi que um deles, vinha dirigido à minha sogra, falecida este ano. E nem sequer tem a desculpa de dizer que não sabia, porque a minha sogra, Regina Borges, era bem conhecida, o seu passamento, acontecido este ano, foi noticiado nos jornais e na rádio com grande relevo. Ele sabe que ela está morta, para grande dor da família. Mesmo assim, com desprezo pelos mais íntimos sentimentos dos que suportam essa dor, enviou para ela as Boas Festas.
Isto só quer dizer que não é ele que manda os postais. Apesar de tentar, parolamente, fazer entender que sim, mandando imprimir nos cartões, a tinta diferente, a sua assinatura. Os desejos de Boas Festas são, assim, uma paródia de mau gosto, ordenada pela sua ambição de voltar a ser presidente da câmara.
Este gesto de Narciso Miranda levanta dois problemas muito graves, para além do particular. Uma acção destas, de enviar as Boas Festas a quase todos os Matosinhenses, custa muito, muito, dinheiro. Antigamente era a Câmara que pagava. Narciso é hoje, um reformado. De onde lhe vem ou de onde lhe veio o dinheiro? Depois, nenhum de nós tem possibilidade de mandar, de modo personalizado, as Boas Festas a todos os Matosinhenses. Para fazer isso, é necessário ter uma base de dados, possivelmente a base de dados eleitoral, para dispor de nomes e endereços. Só que nenhum particular pode ter isso em seu poder. É ilegal. De onde lhe veio uma sabedoria residencial tão vasta?
PENSAMENTO DO DIA
Parece que os apelos à Paz, no Natal, resultaram. Há uma calma inusitada nas ruas. Os poucos transeuntes que se vislumbram não têm pressa. O tráfego é quase nulo. Num devaneio, sou reconduzido aos tempos da infância, perdida nos confins do calendário esgotado. Bonito. Oxalá a mesma tranquilidade habite os corações.
24.12.06
23.12.06
PENSAMENTO DO DIA
Parabéns Mariza, Baião & Companhia! Encontrar tempo, neste tempo, para servir os outros é generosidade. Para quem acusa os artistas de egoistas, é uma lição.
22.12.06
PENSAMENTO DO DIA
O Estado vendeu ao Estado a Penitenciária de Lisboa; e afirma ir construir, com o rendimento da venda, duas novas penitenciárias noutros locais. O último milagre do género aconteceu há dois mil anos. O autor chamava-se Jesus. Nós temos José.
RETALHOS LITERARIOS
De certo modo, a CULTURA está para a parte mais nobre do nosso ser, o espírito, como os bens materiais para o nosso corpo, para as nossas necessidades materiais. Por um lado, somos nós que os produzimos, tanto a CULTURA como os bens materiais. E, por outro lado, não podemos viver felizes sem ambos, os bens materiais e a CULTURA. Todavia, é através da CULTURA que nos tornamos imortais. O corpo, que produzimos ao longo da nossa vida, esboroa-se, desvanece-se, desaparece. O produto do nosso espírito permanecerá muito para além da nossa morte, podendo mesmo ser eterno. Do corpo de Camões só resta, na urna que está nos Jerónimos, uma réstea de poeira. A sua obra viverá enquanto houver um Português.
Tal como as matérias primas necessárias à produção dos bens materiais são múltiplas, variadas, também a CULTURA precisa de elementos racionais, de elementos sentimentais e de elementos da vontade. Porque a razão, o sentimento e a vontade são a essência dos homens, do Homem, da Humanidade.
Isso deveria chegar para darmos tanta atenção aos bens materiais como aos bens do espírito. Mas a nossa experiência conta que não é assim. O desenvolvimento das condições materiais da vida do Homem opõe-se a sua desumanização, a sua aculturação. As nossas diferenças, que fazem muito da nossa riqueza, esbatem-se, Somos cada vez mais iguais, Somos, por isso, cada vez menos cultos. Mas cada vez mais parecemos dar menos dos nossos cuidados à CULTURA. Que nos faz. Que faz de nós seres especiais no Cosmos. Será este o caminho da perfeição?
Pode ser que sim. Pode ser que nesta batalha dialéctica entre o Homem-material e o Homem-moral, este último tenda a ser o vencedor. Mas também pode ser que não. E, no entanto, é necessário que o saibamos. O Homem só verdadeiramente transcende essa limitação, essa negação do seu próprio conceito, que a morte constitui, ao descobrir um sentido para a sua vida. Sem esse sentido, sem esse norte, sem essa libertação das peias da sua vida natural, o Homem, enquanto tal, é um nado-morto.
Mas neste meio da caminhada, a descoberta de um sentido para a nossa existência depende da análise da nossa própria natureza. Não a de cada um de nós, obviamente, mas a nossa natureza colectiva, a natureza do Homem, não a dos homens, a natureza da Humanidade.
Excerto da conferência CULTURA - Magalhães Pinto - Março de 2003
Tal como as matérias primas necessárias à produção dos bens materiais são múltiplas, variadas, também a CULTURA precisa de elementos racionais, de elementos sentimentais e de elementos da vontade. Porque a razão, o sentimento e a vontade são a essência dos homens, do Homem, da Humanidade.
Isso deveria chegar para darmos tanta atenção aos bens materiais como aos bens do espírito. Mas a nossa experiência conta que não é assim. O desenvolvimento das condições materiais da vida do Homem opõe-se a sua desumanização, a sua aculturação. As nossas diferenças, que fazem muito da nossa riqueza, esbatem-se, Somos cada vez mais iguais, Somos, por isso, cada vez menos cultos. Mas cada vez mais parecemos dar menos dos nossos cuidados à CULTURA. Que nos faz. Que faz de nós seres especiais no Cosmos. Será este o caminho da perfeição?
Pode ser que sim. Pode ser que nesta batalha dialéctica entre o Homem-material e o Homem-moral, este último tenda a ser o vencedor. Mas também pode ser que não. E, no entanto, é necessário que o saibamos. O Homem só verdadeiramente transcende essa limitação, essa negação do seu próprio conceito, que a morte constitui, ao descobrir um sentido para a sua vida. Sem esse sentido, sem esse norte, sem essa libertação das peias da sua vida natural, o Homem, enquanto tal, é um nado-morto.
Mas neste meio da caminhada, a descoberta de um sentido para a nossa existência depende da análise da nossa própria natureza. Não a de cada um de nós, obviamente, mas a nossa natureza colectiva, a natureza do Homem, não a dos homens, a natureza da Humanidade.
Excerto da conferência CULTURA - Magalhães Pinto - Março de 2003
21.12.06
PENSAMENTO DO DIA
O Senhor Ministro das Finanças anunciou que o Governo vai adoptar, no próximo ano, medidas destinadas a acelerar os processos de cobrança judicial de dívidas fiscais. Se o Estado Português fosse sério, aquele termo "fiscais" teria sido suprimido. Um Estado que procura acelerar a cobrança dos impostos sem assegurar que o cidadão tem o mesmo direito relativamente aos seus créditos, não é sério. É um prostituto que cobra antes de fazer o serviço.
20.12.06
A CRÓNICA DA SEMANA
No ano da graça de dois mil e seis. O Homem já esteve na Lua. Há muito tempo. No século passado, era eu ainda criança. Ou quase. A Revolução dos Cravos já foi há quase uma geração. Nem sei estimar o dinheiro que veio da Europa para o meu país. No tempo de Cavaco Silva como Primeiro Ministro, a oposição dizia que entravam em Portugal cerca de dois milhões de contos por dia. No tempo de António Guterres, a oposição dizia que entravam no país quatro milhões de contos por dia. Façamos as contas. Tomemos só quinze anos. À média de três milhões de contos. Dá a espantosa soma de 16.425 milhões de contos. Veja, meu Caro Leitor, a grandeza do número traduzido em escudos: 16.435.000.000.000. Natural que a gente se interrogue em que é que isso melhorou os Portugueses, a nossa vida, resolveu os nossos problemas. Uma boa imagem fica da resenha de quinze dias à portuguesa.
......
Bem pode andar aí uma legião de gente, incluindo o Senhor Presidente da República, a tentar injectar-nos optimismo. O organismo rejeita as injecções. A evidência a entrar pelos olhos dentro é demasiado grande. Fica um ponto de exclamação. Nesta quinzena, a Senhora Ministra da Educação não deu aso a notícias. Dizem que, presentemente, os professores são o "ai Jesus" da Senhora Ministra.
Excerto da crónica UMA QUINZENA PORTUGUESA - Vida Económica - 21/12/2006
......
Bem pode andar aí uma legião de gente, incluindo o Senhor Presidente da República, a tentar injectar-nos optimismo. O organismo rejeita as injecções. A evidência a entrar pelos olhos dentro é demasiado grande. Fica um ponto de exclamação. Nesta quinzena, a Senhora Ministra da Educação não deu aso a notícias. Dizem que, presentemente, os professores são o "ai Jesus" da Senhora Ministra.
Excerto da crónica UMA QUINZENA PORTUGUESA - Vida Económica - 21/12/2006
PENSAMENTO DO DIA
Passei por ela quase todos os dias. Durante anos. Vi-a crescer, ganhar formas. Por vezes, sobretudo na Primavera, o seu perfume inebriava-me. Tive, muitas vezes, vontade de me abraçar a ela para sentir toda a força da Vida. Passei hoje por ela, uma vez mais. Melhor, pelo que restava dela. A raiz. Uma motoserra cortou-a rente ao solo. Dizem que vai surgir ali, no lugar daquela árvore, um empreendimento imobiliário. De algum modo, sinto como se me tivessem roubado um pouco de mim.
19.12.06
SUGESTÃO TURÍSTICA
Em Cáceres não se passa. Ou se vai lá ou simplesmente não se vê. Localizada na província espanhola da Extremadura, na estrada que, correndo paralela à fronteira portuguesa, liga Salamanca a Badajoz, Cáceres é uma das mais bonitas cidades espanholas, especialmente a sua Zona Histórica, declarada o terceiro conjunto monumental da Europa e Património da Humanidade. Foi, aliás, totalmente reconstruída com financiamentos da Unesco.
Com origens na pré-história, foi com os romanos que Cáceres começou a ganhar importância estratégica, quando estes aí instalaram a capital administrativa da região, sob o nome de Norba Caesarina. Arrasada pelos Visigodos, foi recuperada e reconstruída pelos mouros. Um caldo que nos transporta ao ambiente da Idade Média, com impressões fortíssimas e belíssimas.
Para os amantes da Cultura e da História, vale bem a pena gastar um dia ou dois a visitar Cáceres.
(gentileza de VIAGENS 747)
PENSAMENTO DO DIA
O Primeiro-Ministro escreveu ao Tribunal Constitucional - onde se encontra em apreciação a nova Lei das Finanças Locais e Regionais - a dizer que tal lei é necessária ao país. Já tínhamos a msgistratura de influência. Nasce agora a magistratura da necessidade. Parabéns ao pai.
18.12.06
PENSAMENTO DO DIA
Nos últimos trinta anos, retirou-se do sector agrícola meio milhão de trabalhadores. Das duas uma:
- ou a economia portuguesa es´teve pujante e absorveu estes trabalhadores noutros sectores (o que não me parece ser verdade;
- ou foram absorvidos pela segurança social, pelo desemprego e pela função pública.
- ou a economia portuguesa es´teve pujante e absorveu estes trabalhadores noutros sectores (o que não me parece ser verdade;
- ou foram absorvidos pela segurança social, pelo desemprego e pela função pública.
17.12.06
PENSAMENTO DO DIA
O Teatro Rivoli, na cidade do Porto, vai ser concessionado a Filipe la Feria. Depois de todo o ruído feito à volta dos procedimentos da Câmara Municipal do Porto relativamente ao Teatro, o mínimo que se pode dizer é:
"Obrigado Rui Rio! Náo apenas os portuenses, mas todos os nortenhos estão-lhe gratos!"
"Obrigado Rui Rio! Náo apenas os portuenses, mas todos os nortenhos estão-lhe gratos!"
16.12.06
PENSAMENTO DO DIA
Quatro funcionários do fisco são acusados de colaboração numa hasta pública que prejudicou o Estado em cerca de milhão e meio de euros. Seguramente, são crentes da máxima de que ladrão que rouba a ladrão...
15.12.06
PENSAMENTO DO DIA
Esta noite deve ter sido de insónia para os envolvidos no caso "Apito Dourado". A doutora Maria José Morgado foi encarregada de conduzir o processo até ao fim.
14.12.06
PENSAMENTO DO DIA
Nos Açores - com dotações financeiras continentais agora aumentadas - o dinheiro dos nossos impostos subsidia, generosamente, divorciados para adquirirem a parte do cônjuge na habitação dos desavindos. A mulher de César pode não ser séria nem parecê-lo, mas lá que é mãos largas, isso é. Está tranquilo, Jardim. Estás perdoado.
13.12.06
RETALHOS LITERARIOS
Felizmente, a inspiração, por modesto que seja o uso que vou fazer dela, surgiu-me, anonimamente, subrepticiamente, por entre as páginas, quebradas já, duma revista desactualizada, perdida entre outras, espalhadas sobre a mesa duma sala de espera qualquer. A folhear distraidamente, pensamentos perdidos num problema profissional, quase passara por ela sem notar. Espírito geralmente atraído pela minúcia, foi uma pequena legenda que me prendeu. Dizia: "Em África, primeiro come o pai, depois a mãe e finalmente os filhos, se algo sobrar. Os elementos produtivos da família são o valor a conservar". Por cima, uma fotografia. A cores, que a tragédia só é negra na linguagem dos poetas ou no traje das viúvas.
Devo dizer-vos que sou, por passatempo, canhestro e curioso estudante de algumas situações dramáticas que a Humanidade tem vivido. O que faz, entre outras coisas, que já tenham perpassado, retratadas, ante os olhos do meu corpo ou do meu espírito, cenas impressionantes da miséria humana. Mas poucas terão provocado em mim tão grande inquietação, como esta viria a inspirar, a ponto de ter ficado esquecido de tudo o mais, ideias em sobressalto, por largos minutos. Talvez porque, diferentemente de todas as outras, esta tinha mais que ver com o futuro do que com o passado, era muito mais uma janela aberta do que uma porta fechada. Eu descrevo.
Um miúdo, cuja cor de pele eu já não lembro, com evidentes sinais de mal-nutrição, dois rios de lágrimas a jorrarem, caudalosos, das nascentes marejadas e a rasgarem sulcos dolorosos, sentia-se, cara abaixo, até se perderem nas margens do queixo. Do narizito brilhante, dois pingos de muco límpido tinham escorrido até se perderem nos lábios entreabertos que deixavam escapar um soluço, ouvia-se. Mas foram sobretudo os olhos que me impressionaram. Cravados na lonjura, negros, brilhantes das lágrimas que os lavavam, eram o retrato, a forma, o corpo material duma interrogativa angústia. Densa. Tão sensível como indizível. Dolorosa e acerada como o gume duma lâmina acabada de afiar.
Os olhos daquela criança, não mais de quatro a cinco anos vegetados, exprimiam audivelmente, com a raiva impotente do espectador-vítima, uma interrogação violenta, importante, crucial, um interrogação dirigida aos homens-grandes perdidos na teia dos seus problemas menores, uma interrogação incrédula e temerosa:
- " Que fazeis do meu mundo?... Que fazeis do meu mundo? "...
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Excerto da conferência "QUE FAZEIS DO MEU MUNDO" - Magalhães Pinto
Devo dizer-vos que sou, por passatempo, canhestro e curioso estudante de algumas situações dramáticas que a Humanidade tem vivido. O que faz, entre outras coisas, que já tenham perpassado, retratadas, ante os olhos do meu corpo ou do meu espírito, cenas impressionantes da miséria humana. Mas poucas terão provocado em mim tão grande inquietação, como esta viria a inspirar, a ponto de ter ficado esquecido de tudo o mais, ideias em sobressalto, por largos minutos. Talvez porque, diferentemente de todas as outras, esta tinha mais que ver com o futuro do que com o passado, era muito mais uma janela aberta do que uma porta fechada. Eu descrevo.
Um miúdo, cuja cor de pele eu já não lembro, com evidentes sinais de mal-nutrição, dois rios de lágrimas a jorrarem, caudalosos, das nascentes marejadas e a rasgarem sulcos dolorosos, sentia-se, cara abaixo, até se perderem nas margens do queixo. Do narizito brilhante, dois pingos de muco límpido tinham escorrido até se perderem nos lábios entreabertos que deixavam escapar um soluço, ouvia-se. Mas foram sobretudo os olhos que me impressionaram. Cravados na lonjura, negros, brilhantes das lágrimas que os lavavam, eram o retrato, a forma, o corpo material duma interrogativa angústia. Densa. Tão sensível como indizível. Dolorosa e acerada como o gume duma lâmina acabada de afiar.
Os olhos daquela criança, não mais de quatro a cinco anos vegetados, exprimiam audivelmente, com a raiva impotente do espectador-vítima, uma interrogação violenta, importante, crucial, um interrogação dirigida aos homens-grandes perdidos na teia dos seus problemas menores, uma interrogação incrédula e temerosa:
- " Que fazeis do meu mundo?... Que fazeis do meu mundo? "...
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Excerto da conferência "QUE FAZEIS DO MEU MUNDO" - Magalhães Pinto
PENSAMENTO DO DIA
O Governo anunciou ir instalar um modelo de nova esquadra policial - Esquadra Século XXI - na actual esquadra do Infante (Porto). Ontem, caiu o tecto da referida esquadra, a qual, aliás, só dispõe de um único sanitário, partilhado por agentes masculinos e femininos. Ora aqui está uma medida coerente do Governo. Portugal Século XXI a cair aos pedaços.
A CRONICA DA SEMANA
O uso do nosso dinheiro nos Açores
Se Vitorino Nemésio voltasse, haveria de mudar o título da sua obra. Porque há bom tempo no canal. Como veremos. Para começar, Carlos César viu engordado o seu orçamento, à custa das trasnferências do Orçamento Geral do Estado. O que se justificará pelo relativo atraso económico e social daquela Região Aitónoma. Veremos agora se ele tem unhas semelhantes às do seu vizinho do lado, madeirense, para tocar convenientemente a guitarra do desenvolvimento, como aquele fez. Mas é sobretudo no socorro social que o celebrado anti-ciclone se faz sentir. Bom tempo todo o tempo. Não sei se para todos. Mas, pelo menos, para quem estiver bem relacionado com quem dirige. Tal como averiguou uma Comissão Eventual de Inquérito à Segurança Social naquele arquipélago. Que analisou, ou melhor, tentou analisar as actividades do Fundo de Socorro Social local. Depois saberemos do resultado da análise. Vejamos, por agora e sinteticamente, os casos, que são muitos.
.......
Bom. Pode bem acontecer que alguns destes casos justifiquem os apoios recebidos. Mas o seu aspecto é tão duvidoso que seria conveniente averiguar tudo o que se passou relativamente a todos eles. Estamos no domínio de aplicação de fundos públicos por critérios discricionários e convém aqui, mais do que em qualquer outra situação não discricionária, que a mulher de César pareça tanto ou mais séria do que realmente é. Por isso que tenha sido constituída, na Assembleia Legislativa Regional dos Açores uma comissão eventual de inquérito a estes factos, a pedido dos deputados do PSD. A qual teve que confrontar-se com o habitual nestas situações. Demoras, por parte do Governo ou das Instituições envolvidas, nas respostas solicitadas. Recusa, por parte do Partido que suporta o Governo, de audição de pessoas julgadas essenciais para o esclarecimento dos factos. Fixação de regras para as audições realizadas, entre as quaias avulta a de ser forçoso ouvir os responsáveis todos ao mesmo tempo e juntos, aparentemente para que não surjam contradições. Isto é, obstrução sistemática ao esclarecimento dos factos. Resultado: conclusão inconclusiva ou inconcluída. Abandono da comissão por quem tinha solicitado a sua criação. Remessa, às autoridades de inspecção dos actos administrativos, do relatório dos factos, a fim de que sejam estas a averiguar. O que pode ou não suceder.
*****
Face a uma situação assim, são legítimas todas as suspeições. E avulta o escândalo subjectivo que é a aplicação do "nosso" dinheiro em operações como as descritas. E quando digo "nosso" é "nosso" português e é "nosso" continental. Gostaria de ouvir agora todos aqueles que têm apelidado Alberto João Jardim de caciqueiro. Como gostaria de ouvir todos aqueles que, no continente, têm que apertar mais o cinto para que possam ir mais uns milhões para os Açores.
Fica, por fim, esta interrogação surda e impotente: que podemos fazer nós para alterar o festival de favores que os detentores do Poder, todos os detentores do Poder, festejam diariamente? Quando é que os tribunais de contas, os procuradores da república, o Presidente da República, dedicam um pouco mais do seu tempo à caça? E não estou a falar de caça aos tigres ou aos elefantes. Estou, como é óbvio, a falar de caça às moscas. Isso. Enquanto não for desmanchado este arraial de quem, só por ser eleito, se julga dono dos muitos milhões que esportulamos a favor do Estado, a nossa sociedade é uma sociedade de vermes. E os vermes não têm coluna dorsal.
Excerto da crónica BOM TEMPO NO CANAL - Vida Económica - 15/12/2006
Se Vitorino Nemésio voltasse, haveria de mudar o título da sua obra. Porque há bom tempo no canal. Como veremos. Para começar, Carlos César viu engordado o seu orçamento, à custa das trasnferências do Orçamento Geral do Estado. O que se justificará pelo relativo atraso económico e social daquela Região Aitónoma. Veremos agora se ele tem unhas semelhantes às do seu vizinho do lado, madeirense, para tocar convenientemente a guitarra do desenvolvimento, como aquele fez. Mas é sobretudo no socorro social que o celebrado anti-ciclone se faz sentir. Bom tempo todo o tempo. Não sei se para todos. Mas, pelo menos, para quem estiver bem relacionado com quem dirige. Tal como averiguou uma Comissão Eventual de Inquérito à Segurança Social naquele arquipélago. Que analisou, ou melhor, tentou analisar as actividades do Fundo de Socorro Social local. Depois saberemos do resultado da análise. Vejamos, por agora e sinteticamente, os casos, que são muitos.
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Bom. Pode bem acontecer que alguns destes casos justifiquem os apoios recebidos. Mas o seu aspecto é tão duvidoso que seria conveniente averiguar tudo o que se passou relativamente a todos eles. Estamos no domínio de aplicação de fundos públicos por critérios discricionários e convém aqui, mais do que em qualquer outra situação não discricionária, que a mulher de César pareça tanto ou mais séria do que realmente é. Por isso que tenha sido constituída, na Assembleia Legislativa Regional dos Açores uma comissão eventual de inquérito a estes factos, a pedido dos deputados do PSD. A qual teve que confrontar-se com o habitual nestas situações. Demoras, por parte do Governo ou das Instituições envolvidas, nas respostas solicitadas. Recusa, por parte do Partido que suporta o Governo, de audição de pessoas julgadas essenciais para o esclarecimento dos factos. Fixação de regras para as audições realizadas, entre as quaias avulta a de ser forçoso ouvir os responsáveis todos ao mesmo tempo e juntos, aparentemente para que não surjam contradições. Isto é, obstrução sistemática ao esclarecimento dos factos. Resultado: conclusão inconclusiva ou inconcluída. Abandono da comissão por quem tinha solicitado a sua criação. Remessa, às autoridades de inspecção dos actos administrativos, do relatório dos factos, a fim de que sejam estas a averiguar. O que pode ou não suceder.
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Face a uma situação assim, são legítimas todas as suspeições. E avulta o escândalo subjectivo que é a aplicação do "nosso" dinheiro em operações como as descritas. E quando digo "nosso" é "nosso" português e é "nosso" continental. Gostaria de ouvir agora todos aqueles que têm apelidado Alberto João Jardim de caciqueiro. Como gostaria de ouvir todos aqueles que, no continente, têm que apertar mais o cinto para que possam ir mais uns milhões para os Açores.
Fica, por fim, esta interrogação surda e impotente: que podemos fazer nós para alterar o festival de favores que os detentores do Poder, todos os detentores do Poder, festejam diariamente? Quando é que os tribunais de contas, os procuradores da república, o Presidente da República, dedicam um pouco mais do seu tempo à caça? E não estou a falar de caça aos tigres ou aos elefantes. Estou, como é óbvio, a falar de caça às moscas. Isso. Enquanto não for desmanchado este arraial de quem, só por ser eleito, se julga dono dos muitos milhões que esportulamos a favor do Estado, a nossa sociedade é uma sociedade de vermes. E os vermes não têm coluna dorsal.
Excerto da crónica BOM TEMPO NO CANAL - Vida Económica - 15/12/2006
12.12.06
PENSAMENTO DO DIA
"Eu, Carolina", um livro sobre os escândalos ligados ao futebol e sem pretensões literárias, é o maior sucesso literário do ano no curto espaço de vinte e quatro horas. Vagueando por aí, à procura de editor e sem o encontrar, quantos escritores de talento andarão? Choro este triste destino de ser português...
11.12.06
PENSAMENTO DO DIA
Morreu Pinochet. Por mais poderosos que sejam os homens, não escapam ao destino geral. Pena é que alguns não possam morrer milhares de vezes.
10.12.06
PENSAMENTO DO DIA
Um em cada cinco portugueses vive abaixo da limiar de pobreza. Não se estranha. O que aflige é que a situação é a mesma de há vinte anos atrás.
9.12.06
SUGESTÃO TURÍSTICA
Astúrias. Para ver uma Espanha diferente. De variadas gentes e ambientes intimistas, de saborosa gastronomia e deleitosa paisagem. Onde fica a cidade mais limpa da Europa. Oviedo. De quem Woody Allen disse ser a cidade do peão, por excelência. Onde Portugal tem raízes. Covadonga e Pelágio. Obrigatório visitar. E viver a emoção de apreciar a paisagem do alto dos Picos da Europa.
(Sugestão gentileza de VIAGENS 747)
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Publicada uma imagem recebida das Asturias para este blog (xana)
PENSAMENTO DO DIA
Prostituição. Espionagem. Árbitros comprados. Dinheiros desaparecidos. Chantagem. Agressões, verbais e físicas. Rendimentos de fazer envergonhar um rei do petróleo. Tudo isto é o futebol. Normal. O que não é normal é que sejam os papalvos de sempre a pagar tudo isto.
PENSAMENTO DO DIA
Quando ouvia falar das novas profissões, não imaginava que uma delas era a de ARGUIDO.
7.12.06
PENSAMENTO DO DIA
Espera-se que a energia eléctrica, cujo preço aumenta sempre que há seca, não tarde a ficar mais barata.
6.12.06
RETALHOS LITERARIOS
A ida a Rala parece ter marcado o descarrilar do meu juízo, Maria do Céu. Ao anunciar-te a nossa ida a Paris, nem sonhava estar a gravar, com o estilete dos acontecimentos inevitáveis, a trajectória que nos conduziria ao fim. E, no entanto, peguei alegremente no convite do chefe da redacção e fui, a correr levar-to, como quem quer entregar rapidamente uma flor acabada de colher. Nem podias imaginar a minha excitação por ter a oportunidade de te levar à minha cidade mais amada. Dois amores, ao mesmo tempo! Tu e Paris! Iria levar-te a Montmartre, para vermos, do Sacré Coeur, nascer o sol sobre os telhados de Paris, cinzentos, com aquelas chaminés todas, que pareciam cogumelos de forma esquisita num bosque xistoso. Comigo, levar-te-ia a pé da Étoile às Tulherias, como se fosses uma imperatriz; os sinaleiros fariam de guardas imperiais, mandando parar o trânsito para te deixar passar. Levar-te-ia também, nos bateaux-mouche, a conhecer as trinta e três pontes de Paris, especialmente a de Alexandre III, com os seus candeeiros a lembrarem o tridente de Neptuno. Faríamos um piquenique no Bosque, com carnes frias compradas na charcutaria moderna da Rua Rivoli. À noite... não, à noite não irìamos à Pigalle. Por qualquer prurido subconsciente, tendo ainda frescas as consequências da nossa ida a Rala, temia levar-te a um sítio onde não faltariam reminiscências da tua vida passada. Levar-te-ia também a visitar o apartamento onde Chopin e George Sand tinham vivido horas de amor aparentadas com as nossas! Ou á Torre, para almoçar... Oh!... a Torre! Nem imaginas como é belo aquele conjunto arquitectónico! Quer seja visto da Escola Militar, quer do Palácio de Chaillot!... O palácio, os jardins, a ponte de Iena, a Torre, os Campos de Marte e a Escola Militar!... Cada coisa no lugar exacto, em rigorosas proporções, como se tivessem sido meticulosamente medidos cada ângulo, cada aresta, cada volume!...
Excerto de "A DUVIDA", de Magalhães Pinto, Editora Contra-Regra, 1994
Excerto de "A DUVIDA", de Magalhães Pinto, Editora Contra-Regra, 1994
PENSAMENTO DO DIA
O Governo, tendo em conta o dinheiro já dado para a obra, quer assumir o controlo e a administração da empresa do Metro do Porto. Se tiver o cuidado de relativizar o dinheiro dado com a obra feita, espera-se que assuma também o controlo e a administração da Fundação Mário Soares.
5.12.06
O P0EMA DO MES
BAJUDA
Esses olhos,
Cor das noites
Em que os sentidos despertos
Vagueiam, incertos,
Nas danças frenéticas
Que um dia dançarás,
Ainda hão de sorrir a um filho,
Negra!
Essa boca,
Carnuda,
Lábios feitos de desejo
Sem saber o que é um beijo,
Onde a língua humedecida
Deixa um brilho sequioso,
Ainda há de beijar um filho,
Negra!
Essas mãos,
Enodoadas
Da lama das bolanhas,
Com que amanhas
Os grãos de fome
Que te impedem de morrer,
Ainda hão de acariciar um filho,
Negra!
Esses braços,
Quase ossadas,
Que carregam o balaio
Como se fosse um catraio,
Lianas de tronco fragil
Com ramos emagrecidos,
Ainda hão de abraçar um filho
Negra!
Esses seios,
Ainda virgens
Das maternidades precoces,
Como se fosses
Uma deusa infecundável
De olimpos misteriosos,
Ainda hão de amamentar um filho,
Negra!
Esse ventre,
Planície
Onde não se vê um rio,
Fremente no desvario
Dos desejos incontidos
Nas noites de lua cheia,
Ainda há de abrigar um filho,
Negra!
Esse sexo,
Mal escondido
Pela túnica que te abraça,
Com tanta graça
Como outros de que há memória
Em histórias mal contadas,
Ainda há-de gerar um filho,
Negra!
E, então, Negra,
Quando tudo suceder,
Quando a vida que possuis
Noutra vida continue,
Dando assim perenidade
Ao maior dos mandamentos,
Será tua a felicidade!
E, de todos os teus tormentos
Nascerá a liberdade!
Esses olhos,
Cor das noites
Em que os sentidos despertos
Vagueiam, incertos,
Nas danças frenéticas
Que um dia dançarás,
Ainda hão de sorrir a um filho,
Negra!
Essa boca,
Carnuda,
Lábios feitos de desejo
Sem saber o que é um beijo,
Onde a língua humedecida
Deixa um brilho sequioso,
Ainda há de beijar um filho,
Negra!
Essas mãos,
Enodoadas
Da lama das bolanhas,
Com que amanhas
Os grãos de fome
Que te impedem de morrer,
Ainda hão de acariciar um filho,
Negra!
Esses braços,
Quase ossadas,
Que carregam o balaio
Como se fosse um catraio,
Lianas de tronco fragil
Com ramos emagrecidos,
Ainda hão de abraçar um filho
Negra!
Esses seios,
Ainda virgens
Das maternidades precoces,
Como se fosses
Uma deusa infecundável
De olimpos misteriosos,
Ainda hão de amamentar um filho,
Negra!
Esse ventre,
Planície
Onde não se vê um rio,
Fremente no desvario
Dos desejos incontidos
Nas noites de lua cheia,
Ainda há de abrigar um filho,
Negra!
Esse sexo,
Mal escondido
Pela túnica que te abraça,
Com tanta graça
Como outros de que há memória
Em histórias mal contadas,
Ainda há-de gerar um filho,
Negra!
E, então, Negra,
Quando tudo suceder,
Quando a vida que possuis
Noutra vida continue,
Dando assim perenidade
Ao maior dos mandamentos,
Será tua a felicidade!
E, de todos os teus tormentos
Nascerá a liberdade!
A CRONICA DA SEMANA
A prescrição fiscal
Outra lei em curso é a do alargamento do prazo de prescrição das responsabilidades fiscais. Esta, eu acho bem. Aquela de, ainda há pouco tempo, terem reduzido o prazo de prescrição de cinco para quatro anos parece mesmo uma medida dinamarquesa e, tal como outros princípios com a mesma nacionalidade, totalmente desfasada da realidade nacional. Depois queixavam-se das dívidas fiscais que, todos os anos, iam por água abaixo. Em Portugal, as coisas não são decididas em cima do joelho. Particularmente pelo Estado. Quando cobra algo, fá-lo depois de profunda e demorada análise. Que leva, geralmente, muitos anos. Portanto, para que mais nenhum malandro escape, pelo decurso do tempo, ao pagamento dos impostos, alargue-se o prazo de prescrição. A bem dizer, a prescrição das dívidas é algo que não entendo. Aprendi na escola que as dívidas engordam com o decurso do tempo. Se engordam, não deviam morrer. Depois, eliminar a prescrição tinha uma inestimável vantagem ecológica. Eram toneladas de lixo que se poupavam. Os papéis passariam a ter, no arquivo, existência vitalícia. Aqui, mesmo ao arrepio do título desta crónica, estamos bem defendidos.
*****
As garantias
Isto não é um PREC. É um PRFC. Parece a mesma coisa, mas não é. Há pequeninos pormenores que fazem a diferença. Repare o meu Leitor que um está escrito com E e outro com F. Programa de Revolução Fiscal em Curso. Mais uma lei em gestação. Até agora, o Contribuinte podia reclamar dos seus impostos. E tinha dois comportamentos à sua disposição: ou pagava primeiro e reclamava depois; ou prestava garantia real ou bancária para a dívida fiscal no acto da reclamação. Só que, na segunda laternativa e decorrido um relativamente curto prazo, se a reclamação não estivesse solucionada, a garantia prestada caducava. Ora isto era o Estado sem defesa. Porque não se pode pedir ao Estado que analise bem as reclamações, tendo em vista ser justo e, ao mesmo tempo, fazê-lo correr o risco de não ter garantias para o seu crédito, no caso da reclamação ser improcedente. Eis, portanto, uma lei bem vinda esta. O Estado está sem defesa mas vai passar a tê-la. Aliás, conjugando esta lei com a do alargamento da prescrição, fica-se a sensação de que a Reforma Administrativa também está em curso. É de esperar, com estas duas leis, uma maior celeridade do Fisco no tratamento dos casos dúbios. A defesa do Contribuinte que se lixe. O Estado somos todos. Contribuintes, nem todos, Há sempre os que escapam.
Excerto da crónica SEM DEFESA - Vida Económica - 7/12/2006
Outra lei em curso é a do alargamento do prazo de prescrição das responsabilidades fiscais. Esta, eu acho bem. Aquela de, ainda há pouco tempo, terem reduzido o prazo de prescrição de cinco para quatro anos parece mesmo uma medida dinamarquesa e, tal como outros princípios com a mesma nacionalidade, totalmente desfasada da realidade nacional. Depois queixavam-se das dívidas fiscais que, todos os anos, iam por água abaixo. Em Portugal, as coisas não são decididas em cima do joelho. Particularmente pelo Estado. Quando cobra algo, fá-lo depois de profunda e demorada análise. Que leva, geralmente, muitos anos. Portanto, para que mais nenhum malandro escape, pelo decurso do tempo, ao pagamento dos impostos, alargue-se o prazo de prescrição. A bem dizer, a prescrição das dívidas é algo que não entendo. Aprendi na escola que as dívidas engordam com o decurso do tempo. Se engordam, não deviam morrer. Depois, eliminar a prescrição tinha uma inestimável vantagem ecológica. Eram toneladas de lixo que se poupavam. Os papéis passariam a ter, no arquivo, existência vitalícia. Aqui, mesmo ao arrepio do título desta crónica, estamos bem defendidos.
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As garantias
Isto não é um PREC. É um PRFC. Parece a mesma coisa, mas não é. Há pequeninos pormenores que fazem a diferença. Repare o meu Leitor que um está escrito com E e outro com F. Programa de Revolução Fiscal em Curso. Mais uma lei em gestação. Até agora, o Contribuinte podia reclamar dos seus impostos. E tinha dois comportamentos à sua disposição: ou pagava primeiro e reclamava depois; ou prestava garantia real ou bancária para a dívida fiscal no acto da reclamação. Só que, na segunda laternativa e decorrido um relativamente curto prazo, se a reclamação não estivesse solucionada, a garantia prestada caducava. Ora isto era o Estado sem defesa. Porque não se pode pedir ao Estado que analise bem as reclamações, tendo em vista ser justo e, ao mesmo tempo, fazê-lo correr o risco de não ter garantias para o seu crédito, no caso da reclamação ser improcedente. Eis, portanto, uma lei bem vinda esta. O Estado está sem defesa mas vai passar a tê-la. Aliás, conjugando esta lei com a do alargamento da prescrição, fica-se a sensação de que a Reforma Administrativa também está em curso. É de esperar, com estas duas leis, uma maior celeridade do Fisco no tratamento dos casos dúbios. A defesa do Contribuinte que se lixe. O Estado somos todos. Contribuintes, nem todos, Há sempre os que escapam.
Excerto da crónica SEM DEFESA - Vida Económica - 7/12/2006
PENSAMENTO DO DIA
José Sócrates disse que temos meios para resolver os problemas dos deficientes, só é preciso agora resolvê-los. Uma afirmação inútil. Todos sabemos que, em Portugal, o grande deficiente é mesmo o Estado.
4.12.06
PENSAMENTO DO DIA
Os galegos estão a reivindicar, no seu estatuto autonómico, ter o mesmo fuso horário que Portugal. Ou eu me engano muito ou estão a preparar a invasão. E o pior é que não nos deixam abrir o túmulo de D. Afonso Henriques para o trazer à liça. Estamos completamente sem defesa.
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