. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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28.12.06
UM POEMA PARA RECORDAR
Pessoa amiga fez-me chegar o inesquecível poema que abaixo se transcreve, com a recomendação de que vale sempre a pena recordá-lo. Estou de acordo e partilho-o com todos os outros Amigos que acorrem a este espaço.
***
SE...
Se podes conservar o teu bom senso e a calma
Num mundo a delirar, para quem o louco és tu.
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê.
Se vais, faminto e nu, trilhando sem revolta um rumo solitário.
Se à torva intolerância, se à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bençãos de perdão.
Se podes dizer bem de quem te calunia.
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afectação de um santo que oficia,
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor.
Se podes esperar, sem fatigar a esperança.
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho.
Fazer do pensamento um arco de aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho.
Se podes encarar com indiferença igual,
O triunfo e a derrota, eternos impostores.
Se podes ver o bem oculto em todo o mal.
E resignar sorrindo o amor dos teus amores.
Se podes resistir à raiva, e à vergonha,
De ver envenenar as frases que disseste,
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha,
Com falsas intenções que, tu, jamais lhe deste.
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo.
Se podes obrigar o coração e os músculos,
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo já, afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante.
Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre.
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre,
São iguais para ti, à luz da eternidade.
Se quem conta contigo encontra mais que a conta.
Se podes empregar os sessenta segundos
Dum minuto que passa, em obra de tal monta,
Que o minuto se espraie em séculos fecundos.
Então ó ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!
Mas 'inda para além um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos!
Pairando numa esfera, acima deste plano!
Sem recear jamais que os erros te retomem.
Quando já nada houver em ti que seja humano.
Alegra-te, meu filho, então... serás um homem!...
Rudyard Kipling - tradução de Félix Bermudes
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