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13.12.06

A CRONICA DA SEMANA

O uso do nosso dinheiro nos Açores


Se Vitorino Nemésio voltasse, haveria de mudar o título da sua obra. Porque há bom tempo no canal. Como veremos. Para começar, Carlos César viu engordado o seu orçamento, à custa das trasnferências do Orçamento Geral do Estado. O que se justificará pelo relativo atraso económico e social daquela Região Aitónoma. Veremos agora se ele tem unhas semelhantes às do seu vizinho do lado, madeirense, para tocar convenientemente a guitarra do desenvolvimento, como aquele fez. Mas é sobretudo no socorro social que o celebrado anti-ciclone se faz sentir. Bom tempo todo o tempo. Não sei se para todos. Mas, pelo menos, para quem estiver bem relacionado com quem dirige. Tal como averiguou uma Comissão Eventual de Inquérito à Segurança Social naquele arquipélago. Que analisou, ou melhor, tentou analisar as actividades do Fundo de Socorro Social local. Depois saberemos do resultado da análise. Vejamos, por agora e sinteticamente, os casos, que são muitos.

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Bom. Pode bem acontecer que alguns destes casos justifiquem os apoios recebidos. Mas o seu aspecto é tão duvidoso que seria conveniente averiguar tudo o que se passou relativamente a todos eles. Estamos no domínio de aplicação de fundos públicos por critérios discricionários e convém aqui, mais do que em qualquer outra situação não discricionária, que a mulher de César pareça tanto ou mais séria do que realmente é. Por isso que tenha sido constituída, na Assembleia Legislativa Regional dos Açores uma comissão eventual de inquérito a estes factos, a pedido dos deputados do PSD. A qual teve que confrontar-se com o habitual nestas situações. Demoras, por parte do Governo ou das Instituições envolvidas, nas respostas solicitadas. Recusa, por parte do Partido que suporta o Governo, de audição de pessoas julgadas essenciais para o esclarecimento dos factos. Fixação de regras para as audições realizadas, entre as quaias avulta a de ser forçoso ouvir os responsáveis todos ao mesmo tempo e juntos, aparentemente para que não surjam contradições. Isto é, obstrução sistemática ao esclarecimento dos factos. Resultado: conclusão inconclusiva ou inconcluída. Abandono da comissão por quem tinha solicitado a sua criação. Remessa, às autoridades de inspecção dos actos administrativos, do relatório dos factos, a fim de que sejam estas a averiguar. O que pode ou não suceder.

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Face a uma situação assim, são legítimas todas as suspeições. E avulta o escândalo subjectivo que é a aplicação do "nosso" dinheiro em operações como as descritas. E quando digo "nosso" é "nosso" português e é "nosso" continental. Gostaria de ouvir agora todos aqueles que têm apelidado Alberto João Jardim de caciqueiro. Como gostaria de ouvir todos aqueles que, no continente, têm que apertar mais o cinto para que possam ir mais uns milhões para os Açores.

Fica, por fim, esta interrogação surda e impotente: que podemos fazer nós para alterar o festival de favores que os detentores do Poder, todos os detentores do Poder, festejam diariamente? Quando é que os tribunais de contas, os procuradores da república, o Presidente da República, dedicam um pouco mais do seu tempo à caça? E não estou a falar de caça aos tigres ou aos elefantes. Estou, como é óbvio, a falar de caça às moscas. Isso. Enquanto não for desmanchado este arraial de quem, só por ser eleito, se julga dono dos muitos milhões que esportulamos a favor do Estado, a nossa sociedade é uma sociedade de vermes. E os vermes não têm coluna dorsal.

Excerto da crónica BOM TEMPO NO CANAL - Vida Económica - 15/12/2006

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