BAJUDA
Esses olhos,
Cor das noites
Em que os sentidos despertos
Vagueiam, incertos,
Nas danças frenéticas
Que um dia dançarás,
Ainda hão de sorrir a um filho,
Negra!
Essa boca,
Carnuda,
Lábios feitos de desejo
Sem saber o que é um beijo,
Onde a língua humedecida
Deixa um brilho sequioso,
Ainda há de beijar um filho,
Negra!
Essas mãos,
Enodoadas
Da lama das bolanhas,
Com que amanhas
Os grãos de fome
Que te impedem de morrer,
Ainda hão de acariciar um filho,
Negra!
Esses braços,
Quase ossadas,
Que carregam o balaio
Como se fosse um catraio,
Lianas de tronco fragil
Com ramos emagrecidos,
Ainda hão de abraçar um filho
Negra!
Esses seios,
Ainda virgens
Das maternidades precoces,
Como se fosses
Uma deusa infecundável
De olimpos misteriosos,
Ainda hão de amamentar um filho,
Negra!
Esse ventre,
Planície
Onde não se vê um rio,
Fremente no desvario
Dos desejos incontidos
Nas noites de lua cheia,
Ainda há de abrigar um filho,
Negra!
Esse sexo,
Mal escondido
Pela túnica que te abraça,
Com tanta graça
Como outros de que há memória
Em histórias mal contadas,
Ainda há-de gerar um filho,
Negra!
E, então, Negra,
Quando tudo suceder,
Quando a vida que possuis
Noutra vida continue,
Dando assim perenidade
Ao maior dos mandamentos,
Será tua a felicidade!
E, de todos os teus tormentos
Nascerá a liberdade!
1 comentário:
Novo, hein!?
Parece de "Os Herois e o Medo" mas não é...
Enviar um comentário