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Devo dizer que não cheguei longe no meu raciocínio, quase dando razão ao especialista em psicologia que diz que a introspecção não é possível, devido à coincidência do observador e do observado. Claro que sei estar a milhas do que, por exemplo, ainda agora se viu com o futebol, com grande parte da comunicação social, especialmente a especializada, a colocar a selecção portuguesa nos píncaros, para vender jornais e, depois, a fazer tudo quanto podia para ver se descobria “podres” na selecção para vender ainda mais exemplares. Claro que também encontrava uma boa explicação para a chamada de atenção daquele meu Leitor. Se, todos os dias, mais de dois terços do que os órgãos informativos publicam de relevante ou é sobre o Governo ou tem a ver com o Governo, a colecção das minhas frases não fazia mais do que seguir a tendência. Mas, por outro lado, havia algo que eu não podia deixar de reconhecer. É que o que penso e escrevo sobre a realidade que nos cerca está, seguramente, influenciado por aquilo que sou, pela escala de valores em que acredito, pela estruturação da minha personalidade já demasiado avançada para ser moldável. E mais, não é independente porque eu quero, na modéstia da minha capacidade, influenciar a realidade. Isto é, aquilo que digo não é, de modo nenhum, independente. Com esta pequena mitigação: é que, tal como eu, ninguém é independente, verdadeiramente independente, totalmente independente. Um exemplo. Se eu tenho à cabeça da minha escala de valores a família tradicional, como posso encontra justificação para uma lei que consagre o casamento entre indivíduos do mesmo sexo? Posso aceitá-la, posso mesmo compreendê-la. Mas serei de opinião que não deve ser publicada.
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Excerto da crónica EU ME CONFESSO - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 25/6/2007
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