(continuação)
Subitamente, sai a correr da vegetação um soldado, a berrar como um possesso, dirigindo-se às mulheres aninhadas. E fica no meio delas, de pé, arma meio inclinada, senhor da vida e da morte no meio do medo feito gente. Passeia o olhar por elas, boca repuxada num esgar que pretende ser um sorriso superior. Não entende, se ouve, as palavras meio choradas das mulheres, com tons de súplica. Dos emboscados, os primeiros soldados começam a abandonar o esconderijo, seguros de não haver perigo. Uma obscenidade enche os ares, berrada pelo homem lá à frente, no meio das mulheres. E uma rajada contínua, até o carregador estar vazio, sai-lhe da arma empunhada com raiva. Rodopia. Uma volta, duas voltas, três voltas. Os camaradas abrigam-se, temerosamente, como podem, cosendo-se com o solo. O silêncio cai sobre a cena patética e fica por ali a pairar, opressivo, esmagador. Aos poucos, começam a ouvir-se soluços. As lágrimas começam a deslizar no rosto do “Quico”. Nem sequer são redentoras. Continuam a ser de raiva. Em rio. Como se quisesse lavar o sangue a esvair-se das mulheres. Para logo ser absorvido pela terra sequiosa.
(continua)
Magalhães Pinto
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