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30.6.08

OS HERÓIS E O MEDO - 308º. fascículo

(continuação)

Até final da comissão, permanentemente feito barril de cerveja ou vaso de cachaça de cajú, o “Quico” não se lembrará mais da Chica do Zé da Burra. E esta nunca saberá ter sido a arma usada para assassinar meia dúzia de mulheres na Guiné, sem nunca lá ter estado.


O que fizeram de ti, meu amigo! Querem-te bravo, leal e fiel. A quê? Tudo parece servir para assanhar em ti a raiva destruidora. Faz parte dos mecanismos da guerra. Desenraizado, afastado de quase tudo o que é sentimento, ficas perfeito. Uma máquina de matar, para quem até a ausência de pretexto é um pretexto. Não é humanidade que esperam de ti. Por isso, é necessário destruir os pedaços dela que em ti tragas. Foste enganado? Sentiste dor pelo que se passou lá longe? Mataram-te sentimentos? Óptimo! É com homens assim, de sentimentos destruídos, que as guerras se fazem. Sem homens assim, não haveria guerras. Não há nada para defender o patriotismo ofendido como a ausência de sentimentos. Tudo isso de que ouves falar, a defesa do solo pátrio, o combate contra a cobiça dos outros, a lavagem dos insultos à tua História, ditos belos sentimentos cívicos, são balelas. Se houvesse ponta de humanidade em ti, matavas assim? Com essa coragem? Sim, porque é necessária coragem para praticar actos de cobardia. Daqueles que ficarão para sempre impressos a sangue na tua alma.

(continua)

Magalhães Pinto

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