(continuação)
A carraspana do “Quico” foi das valentes. Com surpresa de todos, oferecera-se como voluntário para a operação daquele dia. Uma emboscada nas imediações da estrada para Bissorã. Está tenso, com o habitual rosto de menino contraído em esgares de desespero, olhar fixo na picada. Como se estivesse à espera, a cada instante, de ver desembocar na curva a Chica do Zé da Burra, uma camisa de terylene mal lhe cobrindo os quadris, na companhia de um tipo baixote, atarracado, cujo rosto não distingue. De vez em quando, fecha os olhos cansados da fixidez, fazendo das pálpebras ineficazes raspadeiras da visão que o consome. Debalde. Porque outra visão, não menos dolorosa, lhe toma o lugar. Duas palmeiras, ali um pouco ao lado, ganham contornos de gente. Parecem o pai e o irmão mais velho, perfilados, apontando um dedo sob a forma de ramo na sua direcção, enquanto, alternadamente, vão gritando num crescendo. Burro… boi… burro… boi… burro… boi…
(continua)
Magalhães Pinto
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