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Pois bem. Há cerca de uma semana, foi uma expressão dessas que me assaltou, ao ler uma entrevista do Presidente da Casa da Música, no Porto, Rui Amaral, sobre a obra de que é, presentemente, mestre. Por direitos políticos de sucessão, subsequente a uma distinta senhora, subitamente caída no esquecimento, de seu nome Teresa Lago. "Está a dar-me música, este!", foi o meu pensamento, quiçá nefando. Tal como, "se bem me lembro", já tinha pensado ao tempo da "velha senhora", sem intentos pejorativos para a ex-monarca daquela "coisa" que está a nascer na Boavista, em trabalho de parto extremamente difícil. E a razão do meu pensamento musical tinha a ver com meia dúzia de ideias expressas pelo Presidente, as quais, por razões de clarividência, sintetizo e sitematizo:
- A Casa da Música - peça primordial desse já anacronismo que foi o Porto 2001 - vai custar, mais ou menos, o DOBRO do que havia sido "orçamentado"; isto é, cerca de 16 milhões de contos, em lugar dos previstos 8 milhões;
- A dita Casa vai ser única no Mundo, ao que parece, por duas razões: vai ter dois órgãos, um barroco e outro romântico, Presidente dixit;
- A dita Casa não vai ter teia nem fosso para orquestra; para os menos entendidos, a teia é o conjunto da aparelhagem, próxima do tecto, que permite manusear os cenários; e o fosso é aquele espaço, geralmente à frente do palco, onde ficam "escondidas" as orquestras quando, por exemplo, acompanham a representação de óperas ou bailados; ao que parece, porque o fosso não permitiria uma acústica perfeita; tudo, provavelmente, a acrescentar o carácter único no Mundo da Casa que é "um bico de obra";
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Façamos jus ao Presidente. Ele não é o maior culpado. Quando pegou "naquilo", já a gestão anterior tinha lançado a maior parte dos dados. Para ele ficou executar obra decidida por outros. Mas, porque aceitou essa situação sem pestanejar, sem reclamar, sem apontar todos os erros cometidos - atitude em que, aliás persiste - Rui Amaral é, pelo menos, conivente. E, por isso, dá razão ao ex-Ministro da Educação do último Governo Socialista, Augusto Silva, que se manifestou em desacordo com Rui Amaral, todavia esquecendo que o maior responsável é o seu ex-Governo. E, por isso, não pode o Presidente fugir da ratoeira em que se meteu. Uma ratoeira de grande responsabilidade.
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Excertos da crónica DAR MÚSICA - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 20/4/2003
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