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A referida obra de Miguel Cervantes ficou célebre para sempre porque retrata, com fidelidade, uma característica comum a muitos pobres diabos que para aí andam, que se julgam fidalgos e que não passam de pobres tontos. Aliás, a expressão muito utilizada por todos nós – lutar contra moinhos de vento, isto é, contra fantasmas – vem dessa obra precisamente. Tais pobres diabos arranjam um cavalito, quase sempre um aio, inventam inimigos em cada esquina, armam-se em vítimas, vestem, por vezes, a triste juba de palhaços, fazem dos moinhos de vento, que encontram, comandantes de poderosos exércitos, que se propõem derrotar à custa de manobras que, de militares, apenas têm o ridículo das movimentações que eles pensam ser estratégicas.
É meu convencimento que, enquanto a Humanidade existir, não deixarão de existir esses tristes tontos à procura de fazer reviver o passado., que Cervantes imortalizou na sua história. E os demais homens seguirão o seu destino em direcção ao futuro, deixando que os fidalgos arruinados e tontos continuem a lutar contra moinhos de vento. A seu tempo, o Tempo fará deles figuras arrumadas na poeira dos livros para reler um dia.
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Excerto da crónica OS MOÍNHOS DE DOM QUIXOTE - Magalhães Pinto - MATOSINHOS HOJE - 7/7/2008
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