(continuação)
O grupo partido na direcção de Bissau regressara cedo. O outro só chegou de madrugada. Cansados os homens. De Mamadú e Jaló, nem rasto. A selva tragara-os sem deixar migalha. Em contrapartida, uma mina anti-pessoal enterrada à superfície da trilha pouco frequentada, encontrara o pé há tanto tempo aguardado.
A mina é uma arma terrível. Puma assassina à espera da presa. Amante odienta, pronta a saltar à primeira carícia de um pé distraído. Esconde-se, traiçoeira, no pó dos caminhos, enterrada e armada em noites sem luar. Depois, lá fica, expectante, imóvel, à espera do inimigo. Mais tarde ou mais cedo, há-de vir ter com ela. O soldado, mesmo o mais valente, teme-a mais do que a um exército de guerrilheiros. Conhece as minas. Dos livros. Prescinde de apresentações pessoais. Que não dependem da sua vontade. A mina é o fim no momento em que se mostra. Sobretudo a mina anti-pessoal. Invento de dor com malvadez requintada. Calcado o disco superficial, a mina salta à altura duma criança. E rebenta com fragor, espalhando estilhaços mortíferos em seu redor. Só por felicidade incrível se escapa, num raio de cinco metros. Às vezes, acontece uma outra felicidade dramática. Se, ao accionar a mina anti-pessoal, o homem que o faz tem nela apoiado todo o seu peso, a mina não chega a saltar. Rebenta no solo, mesmo por debaixo do pé agressor, levando pelos ares apenas a perna ou as pernas do infeliz e salvando as vidas em torno deste. Uma roda de vidas trocada por uma vida de rodas. Fora isto o sucedido naquela nessa noite.
(continua)
Magalhães Pinto
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