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21.7.08

OS HERÓIS E O MEDO - 330º. fascículo

(continuação)

Na guerra com prazo máximo fixo, como era o caso, o tempo ganha contornos de montanha russa, decorrendo célere, com breves momentos na vertigem de acontecimentos que mal chegam a perceber-se, ora desacelerando, criando a dolorosa sensação do imobilismo para quem quer ver o tempo a passar depressa. E, à medida que as folhas do calendário vão, inexoravelmente, caindo, à medida que vai surgindo no horizonte o sol do regresso, o interesse dos soldados concentra-se no próprio tempo, originando a contradição entre a ânsia da pressa e a frustração da sua lentidão. Absurdamente em contradição com os cuidados necessários, embotados pela rotina, o instinto de conservação, tantas vezes esquecido nas situações de perigo, agiganta-se. E toma posse, involuntariamente, de todo o comportamento. Nas saídas, os homens escolhem os caminhos de menor perigo e as zonas menos activas, encurtando o tempo de acção ao mínimo indispensável. Quando as obrigações acabam, deixam-se ficar ao abandono, perdida toda a audácia, estirados horas a fio numa cama ou reunidos à volta duma mesa, mal falando, em parada contemplação do abstracto.

(continua)
Magalhães Pinto

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