Pesquisar neste blogue

2.2.10

CRÓNICA DA SEMANA - I

O REI E A BARRIGA

Teoricamente, os políticos são eleitos para servir. Todo o poder que ostentam não é seu. Pertence, numa democracia, aos eleitores que neles votaram. E, teoricamente também, o poder por si detido deve ser usado para servir os eleitores. Para os ouvir. Para dar atenção aos seus problemas. Para, na medida do possível, resolverem esses problemas.

Claro que não se espera que um político, uma vez eleito, possa ouvir todos os cidadãos ao mesmo tempo, possa resolver todos os problemas ao mesmo tempo. A sua vida é, por norma, muito atarefada. Os seus dias têm vinte e quatro horas como para os demais. E os cidadãos com problemas são muitos e os problemas dos cidadãos não são menos. Nunca fui político executivo, mas imagino o caudal de solicitações que caem na mesa de um político que ocupa a cadeira do poder. Não lhes queria estar na pele, por muito que fosse a minha vontade de trabalhar.

Mas, sendo assim, o político tem, pelo menos, uma obrigação. A de organizar o poder de modo a satisfazer duas condições importantes. Em primeiro lugar, todos os problemas levantados pelos cidadãos têm que chegar aos seus olhos, aos seus ouvidos. Se ele não tem tempo para os ver ou ouvir pessoalmente, deve delegar em subordinados a função de ouvir e ver, com obrigação de que lhe seja dado conhecimento. E, em segundo lugar, se não tem tempo para analisar e resolver cada problema, deve também delegar em subordinados a resposta a cada qual, de modo a que, com a rapidez possível, o problema e o cidadão tenham essa resposta. Ainda que a resposta possa ser a de que não é possível resolver o problema. Um “não” atempado é preferível a um “sim” fora de horas.

Se um político não sabe organizar-se deste modo, corre um perigo extremamente – passe o quase pleonasmo – perigoso. O de que os cidadãos acreditem que foram meros instrumentos da sua conquista do poder e que, uma vez instalado, se está borrifando para quem é, afinal, o detentor original do poder que ele representa, o cidadão. Em linguagem corrente, começa a ser visto como alguém que, uma vez eleito, ficou com o “rei na barriga”. E nada pode ser mais destruidor para a imagem de um político do que parecer que tem o rei na barriga.

Seria bom que todos os políticos compreendessem isto. Além da simpatia que sempre é gerada por quem dá uma resposta rápida aos problemas dos outros, a sociedade seria muito melhor e mais perfeita, com muito menos problemas. É que ninguém sabe quais os problemas a resolver tão bem como aqueles que os sentem.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 2/2/2010

Sem comentários: