TRISTEZA
Poucas vezes, desde a Revolução dos Cravos, o eleitor português se terá defrontado com tanta perplexidade para votar. Parece incrível como bastaram trinta anos para afastar da política, praticamente, toda a gente boa que, nos mais diversos quadrantes partidários, abraçaram desde a primeira hora os ideais da democracia. Gente como Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa, Adriano Moreira, Sá Carneiro, Magalhães Mota, Mota Pinto, Cavaco Silva, Miguel Cadilhe, Leonor Beleza, Mário Soares, Salgado Zenha, António Barreto, Sottomayor Cardia, Álvaro Cunhal, Carlos Brito, Octávio Teixeira, para só falar em alguns. Uns morreram, outros envelheceram e, outros ainda, cansaram-se. Uma legião de gente competente, disponível para servir o seu país, embora cada qual de acordo com os seus referenciais ideológicos. Os Portugueses deviam pensar um bocadinho em porque é que isto aconteceu. E na culpa que cada um terá para que assim tenha acontecido (naturalmente com exclusão dos que morreram).
Chegados a esta altura, num momento em que, talvez só com exclusão das primeiras horas da Revolução, mais necessário se tornaria ter gente competente à frente do País, estamos reduzidos à tristeza e à vil condição de ter que optar por um de dois homens sem qualquer credibilidade. Um, Santana Lopes, porque, quando foi chamado a altas responsabilidades, acumulou erros sobre erros, até perder mesmo a credibilidade junto daqueles que deviam estar a apoiá-lo neste momento. Outro, José Sócrates, que é apenas mais um a correr o risco de o Poder lhe cair no regaço sem ter feito ainda nada para o justificar e que, nesta ainda breve introdução à campanha eleitoral, não tem adiantado uma única ideia útil, antes se limitando ao costumeiro "bota abaixo" de quem esteve no Poder antes dele. Um "bota abaixo" que chega a tocar as raias do ridículo quando usa um jantar-comício dos seus apoiantes para discutir cartazes e quem mais deles faz parte. Era caso para alguém exclamar na circunstância: "estamos a brincar ou… vamos colar cartazes?".
Os eleitores têm a estrita obrigação de analisar o que lhes é proposto antes de votarem. Temos que admitir que muitos dos males que nos afligem são devidos, em grande parte, à nossa leviandade no momento do voto. É verdade que os políticos que temos presentemente não são grande coisa. Mas é com estes que temos que viver. Com a certeza de que, se não refelectirmos um pouco, se não estivermos com atenção ao que cada um nos propõe, se reagirmos por impulsos momentâneos de zanga ou irritação, de clubismo ou simpatia irracional, tudo irá redundar em nosso prejuízo.
Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 10/1/2005
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