O DESEMPREGO
Temos ouvido, da parte do Governo, e com bastante optimismo, que o desemprego diminuirá durante o mandato corrente. E aconteceu mesmo que, no último trimestre, as estatísticas mostraram que, de algum modo, se deu uma leve redução do mesmo. Ainda que a redução do desemprego verificada esteja longe de configurar o cumprimento da promessa eleitoral de criação de cento e cinquenta mil postos de trabalho, entendemos que toda e qualquer redução deve ser saudada. Mesmo que, como nesta, não seja difícil imaginar que se trata de redução sazonal. A época de Verão é propícia ao emprego de muitas pessoas, devido ao acréscimo de consumidores que a vinda a Portugal de centenas de milhar de turistas justifica.
Todavia, acumulam-se nuvens muito negras no horizonte. São diárias as notícias de encerramento de empresas, ou no imediato ou anunciado para o futuro muito próximo. Con centenas e centenas de trabalhadores despedidos. E, por outro lado, o crescimento económico, que o mundo ocidental vinha a conhecer já há mais de dois anos, está em amortecimento. São dois factores susceptíveis de inviabilizar os esforços do Governo para reduzir o número de pessoas desempregadas.
Ora, é aqui, mais do que em qualquer outro fenómeno, que se vai jogar a popularidade e o sucesso do Governo e do Partido Socialista. Foi exactamente no crescimento acentuado do desemprego que se perdeu a popularidade de Cavaco Silva em meados dos anos noventa. De um modo tão rápido que, depois de termos visto o País rendido às suas qualidades de governante em 1991, numas eleições em que conseguiu a maior maioria eleitoral para a Assembleia da República, passados escassos quatro anos teria certamente perdido as eleições, tal como perdeu, um ano depois, as destinadas à eleição do Presidente da República.
É neste quadro que se afigura rematadamente pouco inteligente enveredar pelo desemvolvimento assente nos grandes projectos, como são o novo aeroporto da Ota e o combóio de alta velocidade. São dois projectos que vão consumir recursos incomensuráveis, sendo relativamente reduzido o seu impacto na criação de emprego. Isto é, vamos gastar o que temos e o que não temos sem dar às pessoas aquilo de que elas mais precisam, o trabalho.
Tudo isto me deixa triste e pessimista. Oxalá eu esteja enganado. Mas pode bem acontecer que, brevemente, tenhamos ultrapassado o meio milhão de pessoas sem trabalho. E, se isso acontecer, teremos uma sociedade perdida em si mesma, sem ter rumo que lhe faça antever melhores dias. Por isso, é que sinceramente desejo que seja eu a estar enganado e não o Governo.
Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 28/11/2006
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