(continuação)
Ela só tem duas peças de roupa para se desembaraçar. Vou adiantar-me no despir. Sento-me com ela na cama e acaricio-lhe os seios. Se ela corresponder, mordisco-lhos, para a excitar. Isto sem gozo da mulher não presta para nada. Depois, deitamo-nos os dois. E ficará ali, como uma deusa negra, à minha espera. És parvo, pá! Uma deusa, aquilo? Vai parecer que estás a comer um mango. O sumo vai-se todo na tentativa de lhe tirar a pele. Vai nada. Se souberes fazer as coisas, vais ver como ela corresponde. Vou conter o mais que possa a pressa do desejo. Quero que seja demorado. Vou beijá-la na boca. Como será que beija uma preta? Também meterá a língua na boca? Deve ser curioso, visto de longe. Os meus lábios rosados e finos grudados nos lábios grossos e arroxeados dela. Lambuzando-se. Comendo-se. Depois, ela vai abrir as coxas de veludo negro, macias. Vai dar gozo passear as mãos naquela veludez. Quando ela estiver húmida, vou mergulhar o meu corpo branco no meio daquelas coxas. Lança em riste a conquistar o castelo inimigo. Bolas, ela não é inimiga. O homem até era da milícia. Não. Lança em riste, embandeirada, pronta para ornamentar o forte. Como aquele mastro do forte de Cutia. Até vai haver morteiradas e tudo. Minhas, há. Haverá das dela? As pretas também terão orgasmos? Que importa? Não é para isso que pago a renda. Porra! Mas assim não presta. O melhor é deixar funcionar os sentidos e deixar a cabeça cá fora. Isso… a frenética alienação dos sentidos, corpos suados perdidos da consciência, enroscados um no outro, como duas serpentes feitas numa, mergulhando, mergulhando sempre, na negra escuridão… buraco negro no fundo do qual reside a radiosa luz branca da libertação… Buraco negro… luz branca… Negro… branco… Negra… branco… Pernas negras, macias, fechadas em torniquete nas pernas brancas, peludas… Preto… branco… preta… branco…
(continua)
Magalhães Pinto
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