(continuação)
Procura, rapaz, procura, que encontras, pensou Mário, enquanto resvalava para um sono desinteressado, embalado pela voz monocórdica do Álvaro, a recitar o poema pela quinta vez.
No dia seguinte, Mário pagou ao libanês os setecentos pesos da renda até ao final previsível da comissão. E colocou a Maria Có à disposição do Álvaro e do Manel. Uma oferta nunca aproveitada pelos amigos. Por pudor ou solidariedade, nunca o chegaram a dizer.
Para tudo correr mal naquela semana, Mamadú fora colocado em detenção no quartel. Um prisioneiro tinha deixado cair, durante o interrogatório do Xerifo Camará, uma acusação terrível. Mamadú era informador dos guerrilheiros, dissera o Xerifo, depois de mais um festival de pancada no depósito da água, aplicado a rigor num homem apanhado por Mansabá e enviado para Mansoa, por se admitir ser importante. A notícia fora acolhida por todos com incredulidade. Acrescida pelo convincente desmentido do próprio Mamadú. Prudentemente, porém, um António Soveral bastante contrafeito ordenara a detenção. Ele não poderia abandonar o quartel até completo esclarecimento do caso. A guerra não se compadecia com sentimentos pessoais.
(continua)
Magalhães Pinto
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