
Com tanto legume, até se poderá pensar que estou a tentar fazer uma sopa. Mas não. Com ingredientes assim, o melhor que se consegue é um caldo mal amanhado. Mais próprio de rancho da tropa do que de banquete. Ou uma caldeirada. De legumes. Não de peixe. Embora ele, quando se vê perdido, não hesite em misturar-se numa peixeirada. Daquelas em que a gente da lota é especialista. Mesmo que, depois, fique com uma indigestão das antigas. É que as caldeiradas são difíceis de digerir também. Especialmente se são aquilo a que eu chamo as caldeiradas patéticas. E, aqui, talvez seja necessária uma explicação. É que muita gente pode pensar que uma caldeirada patética é uma caldeirada feita de peixes patetas. Mas não é. O termo patética não tem nada a ver com patetas. Quando muito, serão patetas os que, sabendo, por alguma experiência passada, que não devem comê-la, decidem comê-la outra vez. Não. Uma caldeirada patética é o que podíamos chamar uma caldeirada de choradinho, a armar à emoção, uma caldeirada destinada a enternecer quem a come. É quase uma salada feita segundo as mais piegas regras da literatura de cordel. Do género daquela que dizia, já lá vai muito tempo, qualquer coisa como isto: “andava o desgraçadinho no gamanço, roubando pró filho trabecloso”. Uma coisa do género. Isso é que é uma caldeirada patética.
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Excerto da crónica PATÉTICA CALDEIRADA - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 26/2/2008
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