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23.2.08

OS HERÓIS E O MEDO - 183º. fascículo

(continuação)

XXIII

Chão de Papel. Esventrado pelas granadas de morteiro que caíam em bátega. Gritando estertores de agonia a cada explosão. Felizmente, chão de papel, frágil hímen rasgado pela ponta acerada dos projécteis. Cópula profunda, a estourar nas entranhas macias da lama meia seca que o sol de fogo não conseguira endurecer entre as duas marés. Há muito tempo que os soldados ali estavam, imobilizados pelo vigor da emboscada. Ternamente abraçados ao chão, único e pouco eficaz abrigo dos estilhaços. Os quais, como vespas enlouquecidas, voavam cegamente em todas as direcções, mordendo raivosamente o tronco dos mangueiros. Estes assistiam, impávidos, à cena infernal. Silenciosamente. Espectadores surpreendidos pelo arraial em redor. Mário sentia o hálito quente da terra agredida lamber-lhe o rosto. Mesmo em frente do seu nariz, uma legião de formigas gigantes - a baga-baga - continuava o seu labor milenário de arrecadar o sustento para o inverno.

(continua)
Magalhães Pinto

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