O nosso Estado é um gigantesco Frei Tomás. Olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz. Apesar de todas as promessas, trata os cidadãos como escravos que, além do mais, até são responsáveis pelos erros que ele próprio comete. Há muitos exemplos disso. Mas esta semana surgiu, noticiado na imprensa, um caso que me deixou prostrado na confusão. Tem a ver com as receitas que dos médicos que consultamos e das respectivas comparticipações.
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Isto é um estúpido absurdo. Trouxe-me à memória um episódio de tribunal, passado com uma pessoa que muito estimei e de quem fui amigo. O Dr. Vasco Airão, distinto advogado da praça do Porto. Um homem miudinho, pequeno, com uma alma muito grande e um saber ainda maior. Já passou para o lado de lá, muito cedo para o seu valor técnico, científico e humano. Tive a grata felicidade de ser seu aluno em Direito Comercial, na Faculdade de Economia do Porto e de, mais tarde, já companheiros de trabalho no BPA, com ele estar em negócios avultadíssimos para aquele Banco. Pois um dia, em tribunal, dirimia-se uma questão cujo elemento de discussão principal era um contrato escrito. O Dr. Vasco Airão defendia a sua tese com tranquilidade, quando o Juiz chamou a sua atenção para um facto ao qual ele não estava a dar importância:
- Ó Senhor Doutor, mas aqui tem uma vírgula… Ora veja, por favor…
O Dr. Vasco Airão aproximou-se da mesa do Juiz, olhou, meditou e eventualmente terá pensado se ia argumentar português com o Juiz ou se ia continuar a defesa da sua tese. E saiu-se com uma resposta lapidar, que o Estado, no caso aqui em análise também merecia que um de nós lhe gritasse aos oyvidos:
- Meritíssimo Juiz, com licença de V. Exa., isso é uma cagadela de mosca…
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Excertos da crónica A PERFEIÇÃO DO ESTADO - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 28/2/2008
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