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29.2.08

MEMÓRIA (ou a propósito da ideia de Portugal realizar um Campeonato do Mundo de Futebol)

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Cairam em saco roto todas as vozes – muito poucas, aliás, sobretudo de quem interessava – que se ergueram contra a realização do Euro/2004. Não me pesa a consciência. Desde o primeiro momento, gritei que não podia ser. Há luxos que não se podem ter enquanto não há pão. O actual Ministro da Tutela do Desporto – José Luís Arnaut – disse ao Financial Times: “não teríamos agido deste modo”. Caso para perguntar onde estava ele e os seus confrades quando o Euro/2004 foi aprovado no meio do maior regosijo. É fácil, hoje, tentar sacudir a água do capote. Mas ele – e grande parte dos Portugueses – fizeram orelhas moucas às vozes que anteviam o pior. O pior está aí. Paguemos a factura. Gilberto Madaíl disse ao Financial Times que o Euro 2004 vai custar cerca de cinco biliões de Euros (aproximadamente, mil milhões de contos). Deste montante, algo será gasto em estradas, extensões de aeroportos e hospitais, diz ele. Estruturas que, naturalmente, ficarão. Mas, daquele montante, apenas cerca de 20% serão custeado por capitais privados. O resto virá do dinheiro dos Contribuintes e, numa pequena parte, dos fundos comunitários. Como sempre acontece, as pessoas “esquecem-se” de dizer o mais importante. É que é muito diferente construir essas infraestruturas que ficam em função das necessidades futebolísticas do que fazê-lo em função das reais necessidades económicas e sociais do país. Os homens de futebol arriscam-se a ser os coveiros, ou pelo menos cúmplices na tarefa, do país. Para vermos até que ponto o Euro/2004 é absurdo e apenas mais um pretexto para financiar os clubes de futebol à custa dos Contribuintes, basta verificar que Portugal se dá ao luxo de estar a construir DEZ estádios de futebol para o evento, quando NUNCA qualquer campeonato europeu de futebol passado se realizou em mais de OITO estádios. Pobretanas cheios de fome em casa, a vestir fraque quando vamos ao futebol. Com amigos como temos nos principais lugares de responsabilidade pública, para que é que precisamos de inimigos?

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Excerto da crónica NEGRO - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 22/10/2002

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