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19.4.11

OS PORTUGUESES - LXXI


"O nome de Antero de Quental (Ponta Delgada, 18/IV/1842 - 11/IX/1891, ib.) tornou-se no símbolo de uma geração (a Geração de 70 ou a Geração de Antero) e é referência obrigatória na poesia, no ensaio filosófico e literário, no jornalismo, mas também nas lutas pela liberdade de pensamento e pela justiça social, onde se afirmou como ideólogo destacado.

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O período mais estimulante da sua vida pública foi o que culminou com a organização, junto com Batalha Reis, das Conferências do Casino, que se inauguraram em 22-V-1871, no Casino Lisbonense. A sua finalidade era a reflexão sobre as condições políticas, religiosas e económicas da sociedade portuguesa no contexto europeu, porque "não podia viver e desenvolver-se um povo isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo", lia-se no programa, redigido por Antero. A mais célebre das conferências é a sua: “Causas da decadência dos povos peninsulares”, que foi imediatamente impressa e se tornou no seu mais conhecido texto em prosa. Para ele, a decadência das nações peninsulares, tão prósperas nos séculos XV e XVI, era devida a três causas de diversa natureza: moral, política e económica. A primeira tinha a ver com a transformação pós-Concílio de Trento do Cristianismo, "que é sobretudo um sentimento", no Catolicismo, "que é principalmente uma instituição". Um vive da fé, o outro do dogmatismo e da disciplina cega, que levou à Inquisição. A segunda, atribuiu-a ao Absolutismo, tão nefasto para a vida política e social como o Catolicismo para a Igreja. A terceira causa (sem discutir o carácter heróico das Descobertas) tinha a ver com as conquistas longínquas que levaram à decadência económica da Metrópole, com largas camadas da população a abandonar os campos com o olho nas riquezas da Índia: "Somos uma raça decaída por termos rejeitado o espírito moderno; regenerar-nos-emos abraçando francamente este espírito.""

(Fonte: Ana Maria Almeida Martins - Figuras da Cultura Portuguesa)

1 comentário:

cidissima disse...

A poesia e a filosofia em Antero não se separam. E se lembrarmos que poesia e filosofia são irmãs, na medida em que o máximo de uma e outra se situa no mesmo plano, apenas focado de modo diverso, a primeira, pela face estética, sentimental, emocional, a segunda, pela face especulativa racional – logo ficará patenteado o valor definitivo da obra poética dele. Por isso sua poesia é para sentir e compreender ao mesmo tempo, pois só assim, vendo as duas formas de conhecimento fundidas, é possível entender e julgar Antero de Quental, um dos mais ricos organismos poéticos em Portugal.

Cida