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12.2.07

CRONICA DA SEMANA

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PRIMEIRA IDEIA:

O dinheiro, só por si, não cria valor. O que pode criar valor são algumas aplicações que dele se faz. O dinheiro pode andar por aí, a saltar de carteira em carteira, que o mesmo é dizer, de depósito em empréstimo, que a riqueza nacional não aumenta nem um cêntimo. Imagine-se um casino. Vai dinheiro, vem dinheiro e a riqueza global não aumenta nem um chavo. Veja-se o totoloto. Vai dinheiro vem dinheiro e a riqueza global fica na mesma, apenas distribuída de outra maneira.

Ora, o negócio dos bancos é o dinheiro. Vai dinheiro, vem dinheiro e a riqueza fica igual. Claro que isto não é verdade para todo o dinheiro com que os bancos lidam. Como quaisquer outros empreendedores, os bancos também fazem aplicações do dinheiro que aumentam a riqueza. Mas não é esse o (como é que se diz para parecer erudito nestas áreas?… ahhh!) "core business" dos bancos. Isto é, o seu negócio essencial.

Portanto, não é por aqui que chegamos à conclusão de que os lucros da banca são criação de riqueza.

SEGUNDA IDEIA

Mais subjectiva, naturalmente. Mas que tem a força do que deve ser numa economia sã. O Produto Nacional Bruto cresceu, em 2006, um pouquito acima de 1%. Isto é, toda a riqueza nacional produzida pelo país inteiro, bancos incluídos, cresceu, relativamente ao ano anterior, uma insignifIcância. E os lucros da banca cresceram algo como, em números redondos, 30%.

Quer isto dizer, se admitirmos que os lucros da banca são criação de valor, teremos que a banca é, em termos de eficiência económica, mais de TRINTA VEZES mais eficiente que todo o resto da economia. Temos de considerar que é obra! Ou melhor, seria obra. Mas por força da primeira ideia, talvez não seja.

TERCEIRA IDEIA

Numa economia, não existem apenas movimentos de criação de valor. Também existem movimentos de TRANSFERÊNCIA DE VALOR. O caso mais visível de um movimento desse tipo são os impostos que pagamos. Temos o rendimento do nosso trabalho e, esse sim, é o produto de um acto de criação de valor. Dele, entregamos uma parte ao Estado. Falando facilmente, o Estado fica mais rico e nós ficamos mais pobres. Claro, se abstrairmos que o Estado somos nós. Porque, como somos, então nem mesmo nós ficamos mais pobres. Só que uma parte da nossa riqueza vai ser gerida por outra entidade, o governo do Estado.

Claro que se houver, em qualquer outra situação e lugar, com outros intervenientes, um movimento parecido com o pagamento dos impostos, mas em que a parte que acolhe o dinheiro seja privada, então uns ficam mais ricos e outros ficam mais pobres. Já iremos ver o que sucede na nossa relação com a banca.

QUARTA IDEIA

Como é óbvio, não existem, em princípio, transferências de valor que não sejam justificadas. O caso dos impostos é um deles. A transferência está justificada pelos serviços que o Estado presta à sociedade. A existência de transferências sem justificação determinaria, naturalmente, a revolta da origem da transferência contra a entidade de destino. Temos, na História, muitos casos em que isso se deu. A não ser, tal como na mesma História sucedeu também muitas vezes, a entidade de destino tenha uma força tal que o mais avisado seja a não revolta.

Tendo em conta estas ideias, olhemos agora os resultados obtidos pela banca em 2006. "Asronómicos" em termos relativos. Os bancos disponibilizam dinheiro aos criadores de riqueza. Mesmo quando fazem crédito ao consumo, estão a contribuir para criar riqueza, uma vez que cada compra efectuada constitui uma ordem à produção para produzir outra unidade igual. Porque adiantam um dos recursos necessários à produção de riqueza, reclamam para si uma parte da riqueza criada por quem utiliza esses recursos. É o que a banca recebe a mais sobre o capital. Vulgarmente, os juros. E temos que declarar que tal é legítimo, desde que a parte apropriada não corresponda nem a agiotagem nem a manobras escondidas (como foi o caso dos arredondamentos no crédito à habitação, há pouco desmantelado).

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O mal vem quando, por força da força que a banca tem, esta cobra aquilo que, parece ao sentido de honestidade, não devia cobrar.

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Excertos da cronica A CRIAÇÃO DE VALOR - Vida Económica - 15/2/2007

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