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18.2.07

RETALHOS LITERARIOS

"Não sei bem como foi, Maria do Céu. Habitualmente, a roupa vestida comporta-se como o maior adversário do romantismo de um acto de amor, espécie de sublinhado duma desobediência ancestral, intervalo entre um suave prelúdio e um grande final, durante o qual dois amantes se vêem forçados a descer dos etéreos espaços dos sentimentos e dos sentidos exacerbados, às comezinhas e reais complicações dos colchetes e fivelas, dos ligueiros e fechos de correr, olhos cravados no chão, envergonhados da culpa própria no paraíso perdido. Mas estava tão concentrado no objectivo supremo de te conduzir à vida, Maria do Céu, que nem me lembro como nos desenvencilhei das roupas, nem me recordo que tenhas dado por isso."

Excerto de "A DÚVIDA" - Magalhães Pinto - 1994

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