Há dias, assisti a um impressionante documentário da National Geographic sobre a degradação acelerada que se está a verificar, sobretudo da atmosfera, por força dos gases que produzimos. Percebi nesse documentário várias coisas. Mas a ideia central que retive, no fim, foi a da globalidade do problema. Quando se descobre que a incidência da asma nas crianças das Caraíbas - Trinidad, por exemplo - passou de praticamente nula a uma frequência anormalmente grande e, depois de averiguado, se imputa tal ao aquecimento global e ao facto de ele provocar a migração de poeiras do Sahara para aquela região, situada a milhares de quilómetros de distância, sentimo-nos obviamente incomodados. Por uma dupla via. Por um lado, porque o que estão a fazer do outro lado do mundo não é indiferente para mim. Depois, porque aquilo que faço não é inócuo para quem se me situa nos antípodas.
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- O século XX foi de progresso prodigioso, demográfico, social e económico; a população cresceu desmesuradamente mas, graças ao desenvolvimento tecnológico e às inúmeras descobertas que ele proporcionou, foi possível conhecer um aumento do bem-estar global médio, ainda que com grandes manchas de pobreza por erradicar;
- Mas esse progresso fez disparar a degradação do meio ambiente; por recurso massivo ao consumo de energia, em grande parte poluidora; por destruição de manchas verdes, poluição dos rios e mares e, sobretudo, da atmosfera;
- Se reflectirmos um pouco, vemos que o século XX bem podia ser chamado o século do automóvel; até ao aparecimento e massificação dos computadores, foi o automóvel o responsável pela criação de postos de trabalho numerosíssimos - contando os empregos directos e os indirectos por ele engendrados - e, assim, aumentando o bem-estar das populações;
- O conforto, exigido nos países desenvolvidos pelo crescimento do bem-estar, obrigou à produção de quantidades imensas de energia, com a correspondente poluição;
- Uma poluição que, hoje, afecta, de um modo global, toda a população do planeta.
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A degradação do meio ambiente foi engendrada pelo desenvolvimento económico. E afecta todos, em todo o Mundo, cada vez mais. Mas os afectados não são todos iguais. Por um lado temos os que beneficiaram do desenvolvimento económico. Foram os que mais poluiram, são os que mais poluem, mas, pelo menos, sofrendo as consequências, daí retiram o benefício do bem-estar restante. Do outro lado, temos os que continuam na pobreza, os que não têm sequer um poço onde se abastecer de água potável, os que não têm estradas, nem automóveis, nem fábricas onde trabalhar e que sofrerão, tal como os outros, os privilegiados do desenvolvimento, dos maus tratos infligidos à natureza.
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Excertos da crónica "INJUSTIÇA GLOBAL" - Magalhães Pinto - "Vida Económica" - 22/2/2007
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