"Vestiu de novo um vestido vermelho…outro. Comprara três antes da viagem. Foi quase uma compulsão aquela cor. Tinha os braços descobertos e o decote amplo. Os homens olhavam para ela. Por razões diferentes, as mulheres também.
Saiu do hotel e virou a esquina. Numa pequena loja onde se vendiam bugigangas encontrou um expositor de postais. Todos a preto e branco. Retratavam o povo e a Revolução. Ficou a olhar para aquilo, de repente transportada para outro tempo.
Che Guevara sentado no chão, enlameado, encostado a uma parede, as botas rotas e a boina com a estrela, metia um púcaro numa lata onde se lia AGUA O.P FRESCA, outro retratava um homem esquelético, em calções, dentro de uma coisa que parecia um contentor de lixo ou um barco. Atrás dele um enorme letreiro de aglomerado de madeira tinha escrito SE VENDE; Fidel discursando, os Pioneiros, os Milicianos… Kidina quis seis postais. A funcionária pegou neles, foi buscar um lápis e um caderno de papel amarelado com linhas, a lembrar os cadernos dos anos quarenta das nossas escolas primárias e registou, um a um, os títulos e as datas, devagar, concentrada: Três Comandantes (Fidel, Camilo, Che) Cuba 1959; se vende uma balsa – Cojimar, Ciudad de La Habana, Cuba, 1994; El Crucifijo, Cuba 1991, etc….
Esperou pacientemente, depois pagou."
Excerto de "OS HOMENS DE KIDINA" - Ângela Leite
(Imagem de che-lives.com)
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