Quando vemos isto, os sentimentos são mistos. Da ternura do que vemos à tristeza de reconhecer que há animais muito mais "humanos" do que muitas pessoas é um pequeno salto.
A história é a seguinte:
Uma senhora encontrou um leão ainda bébé,na Colômbia. O felino estava mal alimentado e quase morto. Tratou dele. O leão cresceu. E foi para o Zoológico. É hoje um animal adulto. Agora vejam a reacção do leão, quando a vê. Ela visita-o todos os dias.
(Gentileza de Fausto Santos)
. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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29.2.08
MOMENTO DE TERNURA
PENSAMENTO DO DIA
O "Diário Económico" noticiou que nos últimos cinco anos os lucros da Banca cresceram menos do que os das empresas não bancárias. Uma prova de que todas as afirmações são possíveis. Basta escolher bem a base donde se parte. Basta incluir no cálculo a GALP (com um crescimento de lucros escandaloso quando tomamos o preço a que os combustíveis são vendidos) e reduzir o período de análise aos últimos cinco anos.
FRASE DO DIA
MEMÓRIA (ou a propósito da ideia de Portugal realizar um Campeonato do Mundo de Futebol)
...
Cairam em saco roto todas as vozes – muito poucas, aliás, sobretudo de quem interessava – que se ergueram contra a realização do Euro/2004. Não me pesa a consciência. Desde o primeiro momento, gritei que não podia ser. Há luxos que não se podem ter enquanto não há pão. O actual Ministro da Tutela do Desporto – José Luís Arnaut – disse ao Financial Times: “não teríamos agido deste modo”. Caso para perguntar onde estava ele e os seus confrades quando o Euro/2004 foi aprovado no meio do maior regosijo. É fácil, hoje, tentar sacudir a água do capote. Mas ele – e grande parte dos Portugueses – fizeram orelhas moucas às vozes que anteviam o pior. O pior está aí. Paguemos a factura. Gilberto Madaíl disse ao Financial Times que o Euro 2004 vai custar cerca de cinco biliões de Euros (aproximadamente, mil milhões de contos). Deste montante, algo será gasto em estradas, extensões de aeroportos e hospitais, diz ele. Estruturas que, naturalmente, ficarão. Mas, daquele montante, apenas cerca de 20% serão custeado por capitais privados. O resto virá do dinheiro dos Contribuintes e, numa pequena parte, dos fundos comunitários. Como sempre acontece, as pessoas “esquecem-se” de dizer o mais importante. É que é muito diferente construir essas infraestruturas que ficam em função das necessidades futebolísticas do que fazê-lo em função das reais necessidades económicas e sociais do país. Os homens de futebol arriscam-se a ser os coveiros, ou pelo menos cúmplices na tarefa, do país. Para vermos até que ponto o Euro/2004 é absurdo e apenas mais um pretexto para financiar os clubes de futebol à custa dos Contribuintes, basta verificar que Portugal se dá ao luxo de estar a construir DEZ estádios de futebol para o evento, quando NUNCA qualquer campeonato europeu de futebol passado se realizou em mais de OITO estádios. Pobretanas cheios de fome em casa, a vestir fraque quando vamos ao futebol. Com amigos como temos nos principais lugares de responsabilidade pública, para que é que precisamos de inimigos?
...
Excerto da crónica NEGRO - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 22/10/2002
Cairam em saco roto todas as vozes – muito poucas, aliás, sobretudo de quem interessava – que se ergueram contra a realização do Euro/2004. Não me pesa a consciência. Desde o primeiro momento, gritei que não podia ser. Há luxos que não se podem ter enquanto não há pão. O actual Ministro da Tutela do Desporto – José Luís Arnaut – disse ao Financial Times: “não teríamos agido deste modo”. Caso para perguntar onde estava ele e os seus confrades quando o Euro/2004 foi aprovado no meio do maior regosijo. É fácil, hoje, tentar sacudir a água do capote. Mas ele – e grande parte dos Portugueses – fizeram orelhas moucas às vozes que anteviam o pior. O pior está aí. Paguemos a factura. Gilberto Madaíl disse ao Financial Times que o Euro 2004 vai custar cerca de cinco biliões de Euros (aproximadamente, mil milhões de contos). Deste montante, algo será gasto em estradas, extensões de aeroportos e hospitais, diz ele. Estruturas que, naturalmente, ficarão. Mas, daquele montante, apenas cerca de 20% serão custeado por capitais privados. O resto virá do dinheiro dos Contribuintes e, numa pequena parte, dos fundos comunitários. Como sempre acontece, as pessoas “esquecem-se” de dizer o mais importante. É que é muito diferente construir essas infraestruturas que ficam em função das necessidades futebolísticas do que fazê-lo em função das reais necessidades económicas e sociais do país. Os homens de futebol arriscam-se a ser os coveiros, ou pelo menos cúmplices na tarefa, do país. Para vermos até que ponto o Euro/2004 é absurdo e apenas mais um pretexto para financiar os clubes de futebol à custa dos Contribuintes, basta verificar que Portugal se dá ao luxo de estar a construir DEZ estádios de futebol para o evento, quando NUNCA qualquer campeonato europeu de futebol passado se realizou em mais de OITO estádios. Pobretanas cheios de fome em casa, a vestir fraque quando vamos ao futebol. Com amigos como temos nos principais lugares de responsabilidade pública, para que é que precisamos de inimigos?
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Excerto da crónica NEGRO - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 22/10/2002
PERGUNTAS SEM RESPOSTA
EFEMÉRIDE DO DIA
FIGURA DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 188º. fascículo
(continuação)
A emboscada não dava sinais de abrandar. Choviam os estilhaços dos morteiros e das granadas usadas pelos guerrilheiros. Em todas as direcções. Como se um vento enfurecido tivesse perdido o norte. Mantendo os homens quase imobilizados, deitados, certamente rogando a todos os santos da sua devoção que uma granada espúria não viesse rebentar-lhes mesmo em frente do nariz. A situação poderia tornar-se desesperada dum momento para o outro. A imobilidade encorajaria os guerrilheiros a afinarem a pontaria. Alguns, mais corajosos ou mais inconscientes, começaram a rastejar em direcção à floresta onde se acoitavam os guerrilheiros atacantes. As árvores seriam melhor abrigo que o chão. E permitiriam ripostar. Aos poucos, vencida a surpresa, foi sendo feito o envolvimento da zona donde provinha o fogo inimigo. Mais por acaso do que por táctica premeditada. Debaixo de fogo, não há tácticas capazes de resistir. É cada um por si. O espírito de grupo funciona, todavia. Inconscientemente. O treino, mil vezes repetido, é de pouca utilidade como inspiração para os movimentos, para os actos, de cada um. Mas estes, globalmente, obedecem a um invisível sentido de equipa. Cobre-me! Vem agora tu, que eu cubro-te! Envolve pela direita! Cala-me aquela puta da costureira! Uma granada! Chamem o enfermeiro, que o “Funchal” está ferido! Sei lá onde! Achas que tenho tempo para olhar por ele? Porra! Depressa, senão o gajo está fodido! Aparecido como por milagre, desafiando o chuveiro de metal, o enfermeiro já aplicou um garrote no “Funchal”. Ó caralho, vê lá para onde apontas a canhota! Senti agora mesmo uns balázios teus passarem a rasar! A tensão solta a língua, numa tentativa de ultrapassar a sordidez da situação.
(continua)
Magalhães Pinto
A emboscada não dava sinais de abrandar. Choviam os estilhaços dos morteiros e das granadas usadas pelos guerrilheiros. Em todas as direcções. Como se um vento enfurecido tivesse perdido o norte. Mantendo os homens quase imobilizados, deitados, certamente rogando a todos os santos da sua devoção que uma granada espúria não viesse rebentar-lhes mesmo em frente do nariz. A situação poderia tornar-se desesperada dum momento para o outro. A imobilidade encorajaria os guerrilheiros a afinarem a pontaria. Alguns, mais corajosos ou mais inconscientes, começaram a rastejar em direcção à floresta onde se acoitavam os guerrilheiros atacantes. As árvores seriam melhor abrigo que o chão. E permitiriam ripostar. Aos poucos, vencida a surpresa, foi sendo feito o envolvimento da zona donde provinha o fogo inimigo. Mais por acaso do que por táctica premeditada. Debaixo de fogo, não há tácticas capazes de resistir. É cada um por si. O espírito de grupo funciona, todavia. Inconscientemente. O treino, mil vezes repetido, é de pouca utilidade como inspiração para os movimentos, para os actos, de cada um. Mas estes, globalmente, obedecem a um invisível sentido de equipa. Cobre-me! Vem agora tu, que eu cubro-te! Envolve pela direita! Cala-me aquela puta da costureira! Uma granada! Chamem o enfermeiro, que o “Funchal” está ferido! Sei lá onde! Achas que tenho tempo para olhar por ele? Porra! Depressa, senão o gajo está fodido! Aparecido como por milagre, desafiando o chuveiro de metal, o enfermeiro já aplicou um garrote no “Funchal”. Ó caralho, vê lá para onde apontas a canhota! Senti agora mesmo uns balázios teus passarem a rasar! A tensão solta a língua, numa tentativa de ultrapassar a sordidez da situação.
(continua)
Magalhães Pinto
28.2.08
PENSAMENTO DO DIA
FRASE DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 187º. fascículo
(continuação)
Aninhai-vos, companheiros! Enterrai a cabeça no solo se for preciso. Nem sequer será vergonha. Enterrar a cabeça no chão é o que fazem todos aqueles que nos enviaram para este inferno. Será que alguns de vós, meus companheiros, estarão a recordar a tranquilidade dos vossos lugares, das vossas aldeias, das vossas cidades? Provavelmente não. O instinto de conservação é mais forte. Não vos envergonheis. É o instinto de conservação que move toda a gente envolvida nesta merda. Os de Lisboa, sentados em sofás de veludo, ordenam a vossa vinda para aqui. Fazem-no por instinto de conservação. Os de lá de baixo, de Bissau, planeiam operações como esta. Fazem-no por instinto de conservação. Com certeza, ao planearem-na, fizeram um cálculo sobre quantas baixas a operação poderia provocar, para ver se seria um número aceitável. Cinco? Dez? Meia centena? Números. Não tenhamos ilusões. Nós somos apenas números. Ok… Dez baixas no máximo. Suportável. Mas quem?… Quem?… Eu?… Tu aí ao meu lado?… O António?… O Joaquim?… O Manuel?… A pergunta crucial nunca é feita. Os Antónios, os Joaquins e os Manueis não existem para quem faz a guerra. Dez anónimos. Dez heróis sem nome. Olhai para a chapa pendurada nos vossos pescoços. Cuidai dela. Não vá dar-se o caso de um estilhaço vos desfazer as ventas, a ponto de vos tornardes irreconhecíveis. Que vedes lá? Um número e a anotação do vosso grupo sanguíneo. Nome? Nada. Trazeis essa chapa ao colo sem reparar na tragédia que ela prenuncia. Tem uma fila de furos a meio, como se fosse papel higiénico, a dividir a chapa em duas partes com as mesmas anotações. Aninhai-vos se não quereis que alguém venha parti-la exactamente por aí. Essa chapa é Vida. Enquanto estiver inteira, é sinal que continuais a respirar. Parti-la é sinal de adeus. A tudo.
(continua)
Magalhães Pinto
Aninhai-vos, companheiros! Enterrai a cabeça no solo se for preciso. Nem sequer será vergonha. Enterrar a cabeça no chão é o que fazem todos aqueles que nos enviaram para este inferno. Será que alguns de vós, meus companheiros, estarão a recordar a tranquilidade dos vossos lugares, das vossas aldeias, das vossas cidades? Provavelmente não. O instinto de conservação é mais forte. Não vos envergonheis. É o instinto de conservação que move toda a gente envolvida nesta merda. Os de Lisboa, sentados em sofás de veludo, ordenam a vossa vinda para aqui. Fazem-no por instinto de conservação. Os de lá de baixo, de Bissau, planeiam operações como esta. Fazem-no por instinto de conservação. Com certeza, ao planearem-na, fizeram um cálculo sobre quantas baixas a operação poderia provocar, para ver se seria um número aceitável. Cinco? Dez? Meia centena? Números. Não tenhamos ilusões. Nós somos apenas números. Ok… Dez baixas no máximo. Suportável. Mas quem?… Quem?… Eu?… Tu aí ao meu lado?… O António?… O Joaquim?… O Manuel?… A pergunta crucial nunca é feita. Os Antónios, os Joaquins e os Manueis não existem para quem faz a guerra. Dez anónimos. Dez heróis sem nome. Olhai para a chapa pendurada nos vossos pescoços. Cuidai dela. Não vá dar-se o caso de um estilhaço vos desfazer as ventas, a ponto de vos tornardes irreconhecíveis. Que vedes lá? Um número e a anotação do vosso grupo sanguíneo. Nome? Nada. Trazeis essa chapa ao colo sem reparar na tragédia que ela prenuncia. Tem uma fila de furos a meio, como se fosse papel higiénico, a dividir a chapa em duas partes com as mesmas anotações. Aninhai-vos se não quereis que alguém venha parti-la exactamente por aí. Essa chapa é Vida. Enquanto estiver inteira, é sinal que continuais a respirar. Parti-la é sinal de adeus. A tudo.
(continua)
Magalhães Pinto
27.2.08
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
Segundo os industriais da panificação, o preço da carcassa tem que passar dos actuais dez cêntimos para dezasseis, devido à subida do preço do trigo nos últimos três anos. Recordam-se de quando foi anunciado que a carcassa tinha que aumentar para vinte cêntimos? Já foi há uma eternidade e as padarias não faliram.
CRÓNICA DA SEMANA (II)
O nosso Estado é um gigantesco Frei Tomás. Olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz. Apesar de todas as promessas, trata os cidadãos como escravos que, além do mais, até são responsáveis pelos erros que ele próprio comete. Há muitos exemplos disso. Mas esta semana surgiu, noticiado na imprensa, um caso que me deixou prostrado na confusão. Tem a ver com as receitas que dos médicos que consultamos e das respectivas comparticipações.
...
Isto é um estúpido absurdo. Trouxe-me à memória um episódio de tribunal, passado com uma pessoa que muito estimei e de quem fui amigo. O Dr. Vasco Airão, distinto advogado da praça do Porto. Um homem miudinho, pequeno, com uma alma muito grande e um saber ainda maior. Já passou para o lado de lá, muito cedo para o seu valor técnico, científico e humano. Tive a grata felicidade de ser seu aluno em Direito Comercial, na Faculdade de Economia do Porto e de, mais tarde, já companheiros de trabalho no BPA, com ele estar em negócios avultadíssimos para aquele Banco. Pois um dia, em tribunal, dirimia-se uma questão cujo elemento de discussão principal era um contrato escrito. O Dr. Vasco Airão defendia a sua tese com tranquilidade, quando o Juiz chamou a sua atenção para um facto ao qual ele não estava a dar importância:
- Ó Senhor Doutor, mas aqui tem uma vírgula… Ora veja, por favor…
O Dr. Vasco Airão aproximou-se da mesa do Juiz, olhou, meditou e eventualmente terá pensado se ia argumentar português com o Juiz ou se ia continuar a defesa da sua tese. E saiu-se com uma resposta lapidar, que o Estado, no caso aqui em análise também merecia que um de nós lhe gritasse aos oyvidos:
- Meritíssimo Juiz, com licença de V. Exa., isso é uma cagadela de mosca…
...
Excertos da crónica A PERFEIÇÃO DO ESTADO - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 28/2/2008
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Isto é um estúpido absurdo. Trouxe-me à memória um episódio de tribunal, passado com uma pessoa que muito estimei e de quem fui amigo. O Dr. Vasco Airão, distinto advogado da praça do Porto. Um homem miudinho, pequeno, com uma alma muito grande e um saber ainda maior. Já passou para o lado de lá, muito cedo para o seu valor técnico, científico e humano. Tive a grata felicidade de ser seu aluno em Direito Comercial, na Faculdade de Economia do Porto e de, mais tarde, já companheiros de trabalho no BPA, com ele estar em negócios avultadíssimos para aquele Banco. Pois um dia, em tribunal, dirimia-se uma questão cujo elemento de discussão principal era um contrato escrito. O Dr. Vasco Airão defendia a sua tese com tranquilidade, quando o Juiz chamou a sua atenção para um facto ao qual ele não estava a dar importância:
- Ó Senhor Doutor, mas aqui tem uma vírgula… Ora veja, por favor…
O Dr. Vasco Airão aproximou-se da mesa do Juiz, olhou, meditou e eventualmente terá pensado se ia argumentar português com o Juiz ou se ia continuar a defesa da sua tese. E saiu-se com uma resposta lapidar, que o Estado, no caso aqui em análise também merecia que um de nós lhe gritasse aos oyvidos:
- Meritíssimo Juiz, com licença de V. Exa., isso é uma cagadela de mosca…
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Excertos da crónica A PERFEIÇÃO DO ESTADO - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 28/2/2008
EFEMÉRIDE DO DIA
PERGUNTAS SEM RESPOSTA
FIGURA DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 186º. fascículo
(continuação)
A emboscada tinha sido inesperada, como todas as emboscadas. Com o batalhão tido por apto para operações maiores, depois de dois meses de patrulhas e pequenos recontros, os Águias iam tentar destruir o mito de Morés. A propaganda inimiga costumava apontar a grande tabanca de Morés como o quartel general das forças armadas do PAIGC, em plena floresta do Oio, bem no coração da Guiné e já não muito longe de Bissau, a menos de cem quilómetros. Inexpugnável, diziam eles. A operação havia sido planeada com cuidado. A floresta tropical, luxuriante e misteriosa, tem segredos de que o adversário se aproveita por melhor a conhecer. De Bissorã, Mansabá e Olossato sairiam as três companhias operacionais. De Mansoa sairiam as tropas especiais dos Comandos. Todas as companhias reforçadas por grupos de combate das milícias locais. Num movimento duplo de tenazes que fechariam no centro da grande floresta, onde Morés se localizava. Escolhidos os caminhos de modo a deixar aos guerrilheiros o mínimo de possibilidades de fuga, esperava-se que estes tentassem tudo para fugir, dada a dimensão das forças adversárias. Por isso, o inesperado da resistência traduzida naquela emboscada. Provavelmente, apenas uma manobra para ganhar tempo e permitir a fuga a outras forças. Mas uma manobra com uma violência e uma concentração de fogo inusitadas. Percebia-se uma concentração de guerrilheiros apropriada à grandeza da operação projectada pelo exército português.
(continua)
Magalhães Pinto
A emboscada tinha sido inesperada, como todas as emboscadas. Com o batalhão tido por apto para operações maiores, depois de dois meses de patrulhas e pequenos recontros, os Águias iam tentar destruir o mito de Morés. A propaganda inimiga costumava apontar a grande tabanca de Morés como o quartel general das forças armadas do PAIGC, em plena floresta do Oio, bem no coração da Guiné e já não muito longe de Bissau, a menos de cem quilómetros. Inexpugnável, diziam eles. A operação havia sido planeada com cuidado. A floresta tropical, luxuriante e misteriosa, tem segredos de que o adversário se aproveita por melhor a conhecer. De Bissorã, Mansabá e Olossato sairiam as três companhias operacionais. De Mansoa sairiam as tropas especiais dos Comandos. Todas as companhias reforçadas por grupos de combate das milícias locais. Num movimento duplo de tenazes que fechariam no centro da grande floresta, onde Morés se localizava. Escolhidos os caminhos de modo a deixar aos guerrilheiros o mínimo de possibilidades de fuga, esperava-se que estes tentassem tudo para fugir, dada a dimensão das forças adversárias. Por isso, o inesperado da resistência traduzida naquela emboscada. Provavelmente, apenas uma manobra para ganhar tempo e permitir a fuga a outras forças. Mas uma manobra com uma violência e uma concentração de fogo inusitadas. Percebia-se uma concentração de guerrilheiros apropriada à grandeza da operação projectada pelo exército português.
(continua)
Magalhães Pinto
26.2.08
FRASE DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
FIGURA DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 185º. fascículo
(continuação)
Mário quase se sentiu divertido ao ver uma das formigas parar, surpreendida. Encontrara no seu caminho o tapa-chamas da G-3. Cautelosamente, a formiga sondou o obstáculo atrevido, a invadir-lhe o espaço, rondando sobre ele as antenas curiosas. Fez um ligeiro movimento de recuo e preparou-se para o tornear. Mário cortou-lhe o caminho, avançando um pouco a arma. A formiga deteve-se novamente. Numa atitude defensiva face ao invasor estranho e superior. Subitamente, arremeteu com decisão contra o inimigo. Num pequeno movimento, Mário esmagou-a com a ponta da arma, desfazendo-a em pedaços que, daí a nada, outras formigas carregavam para o ninho. Na guerra ou na paz, os cadáveres não se abandonam.
(continua)
Magalhães Pinto
Mário quase se sentiu divertido ao ver uma das formigas parar, surpreendida. Encontrara no seu caminho o tapa-chamas da G-3. Cautelosamente, a formiga sondou o obstáculo atrevido, a invadir-lhe o espaço, rondando sobre ele as antenas curiosas. Fez um ligeiro movimento de recuo e preparou-se para o tornear. Mário cortou-lhe o caminho, avançando um pouco a arma. A formiga deteve-se novamente. Numa atitude defensiva face ao invasor estranho e superior. Subitamente, arremeteu com decisão contra o inimigo. Num pequeno movimento, Mário esmagou-a com a ponta da arma, desfazendo-a em pedaços que, daí a nada, outras formigas carregavam para o ninho. Na guerra ou na paz, os cadáveres não se abandonam.
(continua)
Magalhães Pinto
25.2.08
PENSAMENTO DO DIA
FRASE DO DIA
CRÓNICA DA SEMANA (I)
É conhecido como o arroz. Aparece em toda a parte como o tremoço. É duro como o grão-de-bico. Presume de milho rei mas não passa de milho transgénico. Dizem os ambientalistas mais convencidos que o milho transgénico faz mal. Mas não falta quem o cultive para aí. É intragável como a casca do coco. E indigesto como o feijão carrapato. A gente mordisca a casca, a ver se por debaixo há fruto que se coma e só sai o caroço, não tem mais nada. Não obstante é como o pimento, nunca falta na mesa do rei. O seu género é mais de rabanete. Mas este está proibido de ir à mesa do rei. E na mesa do rei é que ele não pode faltar. Se o rei o não convida, ele faz-se convidado, acreditando que ninguém, no palácio, será capaz de lhe bater com a porta na cara. Mas um dia batem.
Com tanto legume, até se poderá pensar que estou a tentar fazer uma sopa. Mas não. Com ingredientes assim, o melhor que se consegue é um caldo mal amanhado. Mais próprio de rancho da tropa do que de banquete. Ou uma caldeirada. De legumes. Não de peixe. Embora ele, quando se vê perdido, não hesite em misturar-se numa peixeirada. Daquelas em que a gente da lota é especialista. Mesmo que, depois, fique com uma indigestão das antigas. É que as caldeiradas são difíceis de digerir também. Especialmente se são aquilo a que eu chamo as caldeiradas patéticas. E, aqui, talvez seja necessária uma explicação. É que muita gente pode pensar que uma caldeirada patética é uma caldeirada feita de peixes patetas. Mas não é. O termo patética não tem nada a ver com patetas. Quando muito, serão patetas os que, sabendo, por alguma experiência passada, que não devem comê-la, decidem comê-la outra vez. Não. Uma caldeirada patética é o que podíamos chamar uma caldeirada de choradinho, a armar à emoção, uma caldeirada destinada a enternecer quem a come. É quase uma salada feita segundo as mais piegas regras da literatura de cordel. Do género daquela que dizia, já lá vai muito tempo, qualquer coisa como isto: “andava o desgraçadinho no gamanço, roubando pró filho trabecloso”. Uma coisa do género. Isso é que é uma caldeirada patética.
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Excerto da crónica PATÉTICA CALDEIRADA - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 26/2/2008
Com tanto legume, até se poderá pensar que estou a tentar fazer uma sopa. Mas não. Com ingredientes assim, o melhor que se consegue é um caldo mal amanhado. Mais próprio de rancho da tropa do que de banquete. Ou uma caldeirada. De legumes. Não de peixe. Embora ele, quando se vê perdido, não hesite em misturar-se numa peixeirada. Daquelas em que a gente da lota é especialista. Mesmo que, depois, fique com uma indigestão das antigas. É que as caldeiradas são difíceis de digerir também. Especialmente se são aquilo a que eu chamo as caldeiradas patéticas. E, aqui, talvez seja necessária uma explicação. É que muita gente pode pensar que uma caldeirada patética é uma caldeirada feita de peixes patetas. Mas não é. O termo patética não tem nada a ver com patetas. Quando muito, serão patetas os que, sabendo, por alguma experiência passada, que não devem comê-la, decidem comê-la outra vez. Não. Uma caldeirada patética é o que podíamos chamar uma caldeirada de choradinho, a armar à emoção, uma caldeirada destinada a enternecer quem a come. É quase uma salada feita segundo as mais piegas regras da literatura de cordel. Do género daquela que dizia, já lá vai muito tempo, qualquer coisa como isto: “andava o desgraçadinho no gamanço, roubando pró filho trabecloso”. Uma coisa do género. Isso é que é uma caldeirada patética.
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Excerto da crónica PATÉTICA CALDEIRADA - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 26/2/2008
FIGURA DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 184º. fascículo
(continuação)
Ordeiras. Neste inferno e elas permanecem ordeiras. Uma atrás da outra, atrás das outras todas. Como são parecidas conosco! E, ao mesmo tempo, tão diferentes! Enquanto as granadas nos cospem terra no rosto, num gesto de desprezo por esta sanha de auto-destruição, elas prosseguem a sua labuta. Queria tanto ser formiga agora. E dissolver-me no anonimato do carreiro. Para que serve a individualidade num mundo assim? Se estes estupores continuam o ataque, ainda ficamos aqui todos. Porventura inidentificáveis. Ó seus bordamerdas! Parem lá com isso! Olhem aqui as baga-baga! Estão-se cagando para as vossas granadas! Ainda nos vamos magoar! Caramba! Não podemos sentar-nos à mesa e discutir isto com um copo de vinho ao lado? Somos assim tão estúpidos que seja necessário aniquilarmo-nos mutuamente para nos entendermos?
(continua)
Magalhães Pinto
Ordeiras. Neste inferno e elas permanecem ordeiras. Uma atrás da outra, atrás das outras todas. Como são parecidas conosco! E, ao mesmo tempo, tão diferentes! Enquanto as granadas nos cospem terra no rosto, num gesto de desprezo por esta sanha de auto-destruição, elas prosseguem a sua labuta. Queria tanto ser formiga agora. E dissolver-me no anonimato do carreiro. Para que serve a individualidade num mundo assim? Se estes estupores continuam o ataque, ainda ficamos aqui todos. Porventura inidentificáveis. Ó seus bordamerdas! Parem lá com isso! Olhem aqui as baga-baga! Estão-se cagando para as vossas granadas! Ainda nos vamos magoar! Caramba! Não podemos sentar-nos à mesa e discutir isto com um copo de vinho ao lado? Somos assim tão estúpidos que seja necessário aniquilarmo-nos mutuamente para nos entendermos?
(continua)
Magalhães Pinto
24.2.08
MOMENTO DE BELEZA
Wonderful world... Que belo é o nosso Mundo, apesar de todos os nossos esforços para o destruir...
CONTRASTES
PENSAMENTO DO DIA (II)
Não se pode negar o interesse do Primeiro-Ministro na área da Educação enm o seu tempramento dialogante: onde quer que se desloque, Sócrates tem, agora, reuniões com os professores. Só que já são tantos que não cabem em qualquer casa. E, um problema, os professores falam todos ao mesmo tempo e em voz muito alta, o que dificulta o diálogo.
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