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2.2.08

DE REGRESSO

Depois de uma rápida escapada a Madrid, para visitar a FITUR (porventura a mais completa feira de turismo do Mundo) eis-me de regresso ao convívio com os amigos desta página, num momento em que o país é assolado por notícias que mostram - uma vez mais - que a ética fugiu de Portugal, eventualmente para não mais voltar.

De algum modo, seria porventura esperável tudo aquilo que vamos sabendo. Afinal, porque é que os detentores de cargos públicos haveriam de ser diferentes do resto do país? Há décadas que sei - que todos sabemos - ser a actividade imobiliária a mãe de todas as corrupções. Há décadas que sabemos que as pessoas que aprovam os projectos nas autarquias são, as mais das vezes, os verdadeiros autores dos projectos que aprovam. Há décadas que sabemos que nenhum funcionário público despreza um "gancho" qualquer que lhe apareça, ganhando a dois carrinhos. Saber, agora, que o mesmo terá acontecido com quem tem hoje responsabilidades supremas na condução do país não devia causar-nos nenhuma estranheza. E, se eu não estiver muito enganado, não nos causa realmente estranheza. Apenas pegamos no assunto para termos de quem dizer mal. Apenas pegamos no assunto para vermos em assados algum poderoso. Apenas pegamos no assunto para dele fazer o nosso gáudio semanal.

Onde as coisas estarão mal, muito mal mesmo, é na negativa rotunda do visado se, por acaso, o que é relatado se passou. Ficava-lhe bem admitir. Não é na legalidade que está o segredo da desculpa. Uma coisa pode ser legal e, todavia, não ser legítima. É na legitimidade que tudo se joga. Na verdade. Na honestidade presente e passada. É imperioso que saibamos que quem nos governa é honesto. E a desonestidade não residirá na eventualidade de o Primeiro-Ministro ter tido um gancho há vinte anos, estará na eventualidade de estar agora a mentir.

Os factos da Comissão de Coordenação da Região Centro, em Coimbra, são mais preocupantes. Informações próximas que tenho do assunto dizem-me que as coisas são ainda mais graves do que têm vindo a público. A direcção terá pedido aos técnicos para alterarem um parecer e, face à recusa destes, tê-los-á ameaçado das consequências, ameaças que concretizou. O sofisma do Ministro do Ambiente - de que quem exprime a opinião da Comissão é quem a dirige - é a Direcção e não os técnicos roça o ridículo. Então para que são necessários os pareceres técnicos? E, mesmo que a Direcção tivesse uma opinião diferente - necessariamente política e não técnica - é imperdoável que quisesse que os técnicos alterassem o seu parecer e não assumisse, directa e pessoalmente, a sua própria opinião. Assim do jeito como quem diz: "apesar do constante no Parecer, EU sou de opinião que...".

Fica, dos acontecimentos dos últimos dias, uma certeza reconfortante. A da enorme força da Democracia e da Livre Opinião. Que a Comunicação Social usou com inteira oportunidade. Enquanto tal acontecer, nem tudo estará perdido. Vamos a ver quantas pessoas processarão, desta vez, as entidades visadas.

Magalhães Pinto

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