(continuação)
Tão pouco! Vinte anos! Com que direito é que se ceifa uma vida aos vinte anos? Por este andar, a Pátria, velha de séculos, corre o risco de morrer toda aos vinte anos. Logo à noite, no Cais do Sodré, a alegria será a do costume. Indiferentes à morte do "Xabregas", os homens escolherão a prostituta a fornicar. As prostitutas olharão para eles, para os seus olhares esfomeados de sexo, como quem olha para cabritos mortos, a esfolar. Enquanto isso, o "Xabregas" estará sózinho, no silêncio da capela mortuária de Bissau. Ali ficará à espera de saber se a família arca com a despesa de trasladação para a Metrópole. Se não puder, ficará, para sempre, enterrado em Bissau. Não há luxos na guerra, nem mesmo para um herói. Quando as raparigas do Cais do Sodré tiverem a notícia, se é que alguma vez a terão, talvez alguma delas tenha um pensamento recolhido, em memória do jovem louro que um dia a alegrou com o seu carácter brincalhão e o seu fogo na cama. Mas será apenas um instante. Tão breve como o que lhe roubou a vida. No dia seguinte, ninguém mais se lembrará dele. A não ser, talvez, a mãe. Será que o "Xabregas" ainda tem mãe? Ou a mãe dele é apenas a má sorte?
(continua)
Magalhães Pinto
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