(continuação)
As contradições de António Soveral confundiam-se no seu espírito. E ele sentia-as. Essa, provavelmente, uma consequência devastadora para o futuro da guerra. E, se o futuro da guerra conhecia ameaças, então era o próprio país a estar ameaçado.
Soveral saiu da messe dos oficiais e dirigiu-se ao quartel, mesmo defronte. Os homens já tinham tido tempo de se instalarem e arrumarem. Mansoa seria provavelmente o seu poiso permanente até ao fim da comissão. De passagem, pararia no posto de rádio para saber se em Mansabá e Bissorã tudo tinha decorrido com normalidade, também. Percorreu o quartel em passo firme. Avaliou as instalações. Não eram más. Muito melhores do que na generalidade dos quartéis no mato que conhecera em Angola. Os edifícios eram, aqui, de construção próxima da europeia, de tijolos e cimento, cobertos com placas de fibrocimento. Um contraste com os feitos de adobe e chapa zincada da maior parte dos restantes, no mato. O aquartelamento fora construído com preocupações estratégicas de defesa. Em quadrado, como se fora projectado por D. Nuno. A frente e um dos lados estavam voltadas para a povoação. Nas traseiras, ficava a grande tabanca de Mansoa. A tabanca constituía uma defesa. Por ali não viria nunca nenhum ataque. E, à frente do lado restante, estendia-se uma larga bolanha, alagada, com um bom quilómetro de extensão, a prolongar-se até uma densa mata, lá longe já. Se algum dia os guerrilheiros decidissem atacar o quartel, seria por aquele lado seguramente. Mas nunca conseguiriam aproximar-se muito. E isso deixava grande margem para o erro, atendendo à manifesta impreparação dos guerrilheiros em armas mais pesadas, como os morteiros, por exemplo.
(continua)
Magalhães Pinto
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