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13.2.08

OS HERÓIS E O MEDO - 173º. fascículo

(continuação)

Como te sinto a falta, minha querida! É como se, de repente, me tivessem enviado para um limbo, no qual me encontro só. Sem mesmo saber se a saída será para o céu ou para o inferno. Como dói! E como tenho medo, meu amor! Insidioso, o medo. Toma conta de cada canto do corpo e da mente. Agarra tenazmente cada célula, cada orgão, cada músculo, embotando-nos qualquer vontade que não seja a de sobreviver. Impede-nos o comando da razão sobre a matéria, deixando aquela com um desejo impossível. O de arremessar a arma para longe e voar para um sítio longínquo, onde não haja homens, nem canhões, nem guerras, nem ódio, nem dor, onde as flores nunca murchem e as crianças nunca cresçam, onde as aves façam os seus ninhos com raios de luar e ofereçam as suas penas para leito duma alma dolorida, cansada, ansiosa por adormecer serenamente, sem remorso, por uma eternidade. E o medo é ainda mais medo por uma outra razão, minha querida. Nunca sabemos como reage. Tanto nos paralisa como leva para os confins do possível a coragem e a força. Agarra a vontade e maneja-a a seu gosto. Quando o medo nos assalta, a vontade é joguete das emoções. Deixamos de saber o que fazemos, como fazemos, quando fazemos. Estamos ali, sós, nas garras do medo, instrumentos do seu querer. Súbito. Sempre súbito. Nunca sabes com antecedência o que o medo vai fazer de ti.

(continua)

Magalhães Pinto

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