(continuação)
Escrever. A fuga temporária para os lugares nunca esquecidos. A companhia mais desejada numa solidão imensa, feita dos horizontes sem fim da bolanha guineense. Dez minutos, um quarto de hora, meia hora que fosse. Ganhos na imensidão dos dias. Escrever era a única oportunidade de pensar no amanhã. Ou no ontem. Mário vertia os seus sentimentos no papel branco. linha após linha. Sem constrangimento. Dizia-se que as cartas eram censuradas, abertas, sobretudo quando oriundas de alguém trazendo história de revolta atrás de si. Mário estava-se nas tintas. Que lessem. A caneta deslizava na superfície do papel, ininterruptamente. Como se os pensamentos ao papel pertencessem e não precisasse a mão de comando do espírito. Em seu redor, vários faziam a mesma coisa. E o silêncio na caserna era quase total, muito diferente das outras noites, quando o jogo de cartas fervia.
(continua)
Magalhães Pinto
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