. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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16.2.08
OS HERÓIS E O MEDO - 176º. fascículo
(continuação)
As cartas eram quase todas semelhantes. Lamentos que alguns tentavam tornar menos perceptíveis, ornando-os de um optimismo e duma alegria a soarem a falsos. Detinham-se, em primeiro lugar, em aspectos pessoais. De um lado e do outro. Saudade rabiscada em frases curtas e simples. “Espero que ao receberes esta minha carta estejas bem”. Emigrantes forçados, os militares tomavam o papel por confidente e abriam para ele as almas geralmente fechadas. Era quase um ritual de confissão. Que o papel acolhia com a discrição de qualquer padre, silenciosamente. Depois dos aspectos pessoais, vinham as descrições daquele novo universo em que haviam mergulhado, ora coloridas, ora cinzentas, dependendo do estado de alma. Era a parte mais feliz da carta. Era como se cada um quisesse encontrar companhia cúmplice no destinatário da missiva, fazendo-o participar duma aventura a decorrer lá longe. E, depois de um ou outro apontamento mais trágico, descrito de passagem quase sempre, era o tempo para o regresso à saudade inicial. Fechando o círculo.
(continua)
Magalhães Pinto
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