. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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18.2.08
OS HERÓIS E O MEDO - 178º fascículo
(continuação)
Mário acabou a carta em dois tempos. Rabiscou as despedidas à pressa, dobrou as folhas, enfiou-as no sobrescrito atabalhoadamente, passou a margem pela língua e fechou-a. Como se estivesse envergonhado do conteúdo. Foi ao caixote a servir de mesa de cabeceira e trouxe de lá uma estampilha dos correios. A qual reproduzia, curiosamente, uma serpente. O símbolo do mal. Jogou a carta em cima da mesa, para junto de outras que já lá estavam. Na manhã seguinte iriam todas juntas para a secretaria da Companhia, a qual se encarregaria de as colocar em marcha para o destino final.
Alguém alvitrou uma jogatina. Na escassez de distracções, as cartas eram raínhas. Para além delas, apenas o cinema aos Sábados, ao ar livre, na esplanada do Clube dos Balantas e a leitura, já na cama, dos livros eróticos de Cassandra Rios, uma lésbica brasileira cujas páginas eram o motor de arranque para sonhos húmidos e coloridos. Formou-se a mesa. Para um jogo de loucos. O “abafa”. A dinheiro. Militar na guerra não joga a amendoins. Ao Mário, ao Manel e ao Álvaro, juntara-se ainda o Matos, um bracarense viciado no jogo, e um alferes no qual o vício era também evidente, embora mais recatado.
(continua)
Magalhães Pinto
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