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2.2.08

POEMA DO MÊS


TEMPO SEM GOSTO

Sorrisos avulsos
desfloram-me o rosto...
São espasmos convulsos
dum tempo sem gosto...
São folhas dum livro
que vou desfolhando,
na procura dum fim
a chegar sei lá quando!...
Ébrio de tédio!...
São como um remédio
destinado a matar
esta vontade de Amar!...

Uma vontade
que desatina
e que vai para além
dum não querer imenso....
E, no entanto,
quando penso,
um instante,
um só instante....
a minha vontade
é seguir adiante...
É encontrar novo rumo,
esquecendo o antigo,
enquanto me arrumo
em tudo o que digo...
Transformando em promessas
os sonhos sonhados...
Pondo tudo às avessas
nos meus passos trocados...
É povoar os desertos,
matar as cidades.
E, de olhos abertos,
esconder claridades...
Descobrir a ternura
num gesto malquerido,
disfarçando a usura
do tempo perdido...
É perder um tesouro
e achar um centavo,
imaginando que é ouro
cada meu desconchavo...

Ai! Esta vontade,
tranformada em fadário,
que me leva a fazer
o que quero, ao contrário...
Esta contradição,
às vezes sublime,
que me faz dizer não
a tudo o que estime...
Este ser e não ser...
Este sentir avulso
que me leva a perder
do meu eu todo o pulso...
Este estar e não estar
contra a voz da razão...
Como quem quer chegar
à terra do não...
Ai! Esta vontade...
Bola feita de trapos,
perdida, aos baldões...
toda feita em farrapos...
Buscando perdões...
Mergulhada em tormento...
Perdida no espaço...
E que, no pensamento,
faz morder o cansaço...
É o castigo fatal,
o perene castigo
de quem, afinal,
não encontra um amigo...

Sorrisos avulsos
desfloram-me o rosto...
São espasmos convulsos
dum tempo sem gosto...
São folhas dum livro
que vou desfolhando,
na procura dum fim
a chegar sei lá quando!...
Ébrio de tédio!...
São como um remédio
destinado a matar
esta vontade de Amar!…

Magalhães Pinto

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