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30.10.09

MEMÓRIA

SEM REMÉDIO

Assistimos, há bem pouco tempo, a uma querela pública sobre a construção, na Serra da Arrábida, em Setúbal, de uma casa pertencente ao actual Ministro do Ambiente, numa área considerada de Reserva Ecológica Nacional. Nessa discussão, muito se empenhou a Oposição, com particular relevo para o Partido Socialista. Depois de muita discussão, lá conseguiu o Ministro do Ambiente provar que tudo se encontrava legal. Contudo, e apesar de todas as provas apresentadas, ficou no ar, muito por diligência da Oposição, que a área da nova casa exceedia em muito a da anterior o que, a acontecer, também seria ilegal.

Calados os ecos desse facto, eis que um outro surge em público. Desta vez virando o feitiço contra o feiticeiro. Acaba de ser anunciado que o Ministério do Ambiente mandou investigar a construção de um apartotel, nas dunas de Montegordo, no Algarve, numa zona considerada reserva natural e, portanto, de construção interdita. O referido hotel pertence a uma sociedade de que é sócio e administrador um filho do presidente do Partido Socialista, Almeida Santos. O licenciamento da construção do hotel, a escassos trinta metros da linha de mar, manteve-se num impasse durante mais de uma década, designadamente por contra essa construção serem muitos pareceres das autoridades que haviam de pronunciar-se sobre o assunto. Até que foi viabilizado, em Março de 2000, pelo então Secretário de Estado do Ordenamento do Território e actual porta-voz do Partido Socialista, Pedro Silva Pereira. Pelo meio ficava uma sentença de tribunal de que, ao que parece, o Ministério do Ambiente deveria ter recorrido e não o fez. Era Ministro do Ambiente José Sócrates.

Independentemente do que venha a ser averiguado, os dois casos aqui referidos mostram de que modo os políticos são pouco prudentes. A função que exercem exige deles a máxima transparência e lisura, a fim de que se não possa pensar, sequer, que utilizam o Poder em seu próprio benefício. Mas para eles isso é letra morta. Constantemente aparecem envolvidos em questões no mínimo muito duvidosas. E aquilo de que se suspeita, o tráfico de influências entre os detentores do Poder, surge como conclusão inevitável. Com a agravante de que, quanto mais missionários parecem, mais se lhes vê o rabo por debaixo da sotaina. Com uma história destas dentro de casa, o Partido Socialista nunca deveria ter atirado pedras ao actual Ministro do Ambiente. De longe, de muito longe, o seu caso parece muito pior. A ver vamos.

Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 9/11/2004

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