OS TRABALHOS DE CASA
Todos nos recordamos de, aqui há uns meses, antes das eleições, e quando a crise internacional já dava sinais de abrandar, ouvirmos o Primeiro-Ministro dizer, com alguma arrogância até, o seguinte:
- O pior da crise já passou e nós estamos em condições de responder melhor agora, porque o Governo fez os trabalhos de casa.
Queria ele falar, na sua, da excelência da governação que ele e os seus ministros tinham levado a cabo, nos quatro anos de mandato que agora terminaram, excelência graça à qual os portugueses não sofreriam tanto com a crise como seria de esperar.
Não foram precisos muitos meses para avaliar que, como muitos preveniram ao longo do tempo, José Sócrates era apenas um especialista de propaganda, tendo seguramente conseguido ser muito mais bem sucedido se, em lugar de Primeiro-Ministro, tivesse escolhido a profissão de delegado de propaganda de um laboratório médico. As finanças públicas estão um descalabro. O desemprego é presentemente astronómico e ainda vai subir mais. A Segurança Social está a cortar benefícios a olhos vistos. Empresas fecham todos os dias. E nem sequer estamos a aproveitar do facto de que, em muitos países nossos parceiros, a crise já lá vai e já estão a recuperar.
Infelizmente, a Economia e a Política não deixam ver, a posteriori, como nas outras ciências, o que é que aconteceria se não tivesse acontecido o que aconteceu. Mas não é difícil tentar ver no abstracto. E a conclusão óbvia é a de que, se a Economia portuguesa não tivesse sido sangrada como foi nestes últimos quatro anos, estaria hoje muito mais forte, resistiria muito melhor à crise e não precisaria tanto do Estado como está a precisar.
O interesse de tudo isto é que precisamos de aprender com a experiência. Os Partidos não são clubes de futebol que escolhemos para toda a vida. Governar o país é proporcionar aos cidadãos modos de serem felizes. E, se um político usa a propaganda como arma essencial do seu discurso, isso quer dizer, muito provavelmente, que está a fazer as coisas mal e que procura enganar os cidadãos para disfarçar os maus resultados da sua acção. Aliás, esta é uma situação que nós, em Matosinhos, conhecemos muito bem, de tempos que começam a cair no esquecimento.
Atentemos, pois, muito bem na realidade e recusemos todos os políticos propagandistas. Até o Machado, que vendia a pomada santa banha de jibóia junto à estação de São Bento, a certa altura não conseguia vender nem uma bisnaga.
Magalhães Pinto, em MATOSINHOS HOJE, em 8/12/2009
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