Apesar de a economia parecer estar a recuperar
Portugal perde empregos mais rapidamente do que a Europa
Portugal continua a destruir postos de trabalho de uma forma mais acentuada do que na União Europeia (UE), segundo os números ontem divulgados pelo organismo estatístico comunitário, Eurostat.
Essa quebra no emprego verifica-se apesar de Portugal registar uma recuperação mais rápida da economia do que na UE.
Quando há uma recessão, o emprego segue essa trajectória negativa. Durante a de 2003, a quebra do PIB foi mais forte do que a destruição de emprego e, apesar de o desemprego resistir quase dois anos até ser absorvido, a criação de emprego iniciou-se com a retoma económica.
Nesta crise, todavia, verifica-se uma destruição de postos de trabalho mais acentuada do que o andamento da economia e com algum desfasamento temporal face ao PIB (ver gráfico). Mas, mais curioso, com uma dimensão superior à destruição de emprego na UE.
No terceiro trimestre de 2009, a UE perdeu 712 mil empregos face ao trimestre anterior. Ou seja, uma diminuição de 0,5 por cento face ao segundo trimestre de 2009. Quando se compara com o mesmo trimestre de 2008, a quebra foi de 2 por cento. Na zona euro, um grupo de países mais restrito, os valores pouco variam (respectivamente 0,5 e 2,1 por cento).
Mas só em Portugal, a perda de postos de trabalho no terceiro trimestre face ao segundo foi de 59 mil empregos. Ou seja, uma queda de 1,1 por cento, o dobro da registada na UE. Comparando com o emprego do terceiro trimestre de 2008, a quebra foi bem mais pronunciada. Segundo os critérios do Eurostat, o emprego caiu 3,1 por cento, queda apenas inferior à da Letónia, Estónia, Espanha ou Finlândia. De acordo com o INE, foram destruídos nesse ano terminado em Setembro 178 mil postos de trabalho, uma diminuição de 3,4 por cento, uma das mais elevadas de sempre.
É, pois, compreensível que, segundo o Eurobarómetro ontem divulgado, o desemprego preocupe sensivelmente mais os portugueses. É o principal problema para 57 por cento deles (contra 51 por cento na UE) e na sua maioria (40 por cento) espera-se mesmo um agravamento nos próximos 12 meses.
A destruição dos postos de trabalho contraria o optimismo oficial. Recentemente, o Governo mostrou-se agradado com a variação em cadeia do PIB em 0,7 por cento no terceiro trimestre passado e o próprio primeiro-ministro adiantou que se estariam já a criar postos de trabalho, apesar de o desemprego continuar a subir e o Eurostat antecipar para Outubro passado uma taxa de desemprego superior a dez por cento, apenas esperada em 2010.
Ontem, a OCDE anunciou novo agravamento, sobretudo devido à UE. Nos países membros, a taxa de desemprego foi de 8,8 por cento em Outubro passado, mais 0,1 pontos percentuais do que Setembro anterior e mais 2,3 pontos do que em Outubro de 2008. Mas a taxa de desemprego desceu nos Estados Unidos e no Japão. Para Portugal, a OCDE alinhou com o Eurostat - 10,2 por cento.
De forma cautelosa, a ministra do Trabalho, Helena André, declarou que o Governo segue "com muita atenção" a destruição do emprego em Portugal e que se manterão todas as medidas de apoio ao emprego.
In PÚBLICO - 15/12/2009
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