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4.2.11

POEMA DO MÊS



CONTRADIÇÃO

Sorrisos avulsos
desfloram-me o rosto…
São espasmos convulsos
de um tempo sem gosto…
São folhas de um livro
que vou desfolhando
na procura dum fim
a chegar sei lá quando!...
Ébrio de tédio!...
São como um remédio
destinado a matar
esta vontade de Amar!…

Uma vontade
que desatina
e que vai para além
dum não querer imenso..
E, no entanto,
quando penso
um instante,
um só instante,
a minha vontade
é seguir adiante…
É encontrar novo rumo,
esquecendo o antigo,
enquanto me arrumo
em tudo o que digo…
Transformando em promessas
Os sonhos sonhados
e pondo tudo às avessas
nos meus passos trocados…
É povoar os desertos,
matar as cidades
e, de olhos abertos,
esquecer claridades…
Descobrir a ternura
dum gesto mal querido,
disfarçando a usura
do tempo perdido…
É perder um tesouro
e achar um centavo,
imaginando que é ouro
cada meu desconchavo…

Ai esta vontade,
transformada em fadário,
que me leva a fazer
o que quero, ao contrário…
Esta contradição,
às vezes sublime,
que me faz dizer não
a tudo o que estime…
Este ser e não ser…
Este sentir avulso
que me leva a perder
do meu Eu todo o pulso…
Este estar e não estar
contra a voz da razão,
como quem quer chegar
à terra do não…

Ai, esta vontade…
Bola feita de trapos,
perdida, aos baldões,
toda feita em farrapos…
Buscando perdões…
Mergulhada em tormento…
Perdida no espaço…
E que, no pensamento,
faz morder o cansaço…
É o castigo fatal,
o perene castigo
de quem, afinal,
não encontra um amigo…

Sorriso avulsos
desfloram-me o rosto…
São espasmos convulsos
de um tempo sem rosto…
São folhas de um livro
que vou desfolhando,
na procura de um fim
a chegar sei lá quando!…
Ébrio de tédio!...
São como um remédio
destinado a matar
esta vontade de Amar!...

Magalhães Pinto

2 comentários:

cidissima disse...

A gangorra do Poeta


Se o paradoxo é uma afirmação, aparentemente contraditória a outra ou ao senso comum, o Poeta prende-se num casulo solitário sem chances de realizar seus desejos.
Seu medo de alcançar voos iluminados, aumenta gradativamente, e o impede que seus nós sejam desatados.
Seu grito é silencioso! Há mistérios! Estes são invioláveis!
Seu diálogo aparente e as palavras da alma são um verdadeiro solilóquio.
Um enigma está lançado! Somente o Poeta tem o código guardado. Sua sugestão para desvendá-lo, fica apenas para as observações do leitor.

Cida

GP disse...

Gostei de ler o poema. Gostava de o ter escrito...

beijo