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8.8.09

FOGOS FÁTUOS


FOGOS FÁTUOS

A notícia é dada no Relatório da GNR sobre a Operação Floresta Segura 2008. Segundo o revelado, os dados reais sobre os incêndios florestais e sobre as áreas ardidas, em cada um dos anos de 2007 e 2008, que haviam sido inscritos na estatística respectiva daquela Guarda, foram alterados, para menos. E tudo quanto a GNR pode dizer é que quem fez as alterações foram “desconhecidos”. Sabendo-se que as alterações passaram essencialmente por alguns fogos e áreas ardidas terem sido posteriormente modificados para queimadas, desaparecendo dos incêndios.

Esta notícia mostra a confiança que nos podem merecer os dados oficiais, sejam sobre o que sejam. E deixa um sem número de interrogações no nosso espírito, para as quais não se encontra resposta. De que saliento três. Em primeiro lugar, quem é que pode ter interesse em que a informação sobre incêndios florestais surja na opinião pública reduzida, relativamente àquilo que verdadeiramente aconteceu. Em segundo lugar, quem é que beneficia com o facto de a informação ser falseada. E, em terceiro lugar, em quantas áreas mais dos serviços públicos, aquilo que nos contam é verdadeiro ou não?

Claro que há pistas para tentarmos saber aonde se localiza o interesse. Todas as entidades cuja missão é prevenir os fogos florestais têm interesse em que os números que vão sendo apresentados a público sejam cada vez menores. A começar pelo Governo, o qual, já por mais duma vez, se veio vangloriar para a praça pública do acerto da sua política de combate a esse tipo de desastre, com base, precisamente, nos dados estatísticos. Em segundo lugar, de todas as entidades que podem beneficiar da falsificação estatística, o Governo é seguramente o mais beneficiado. Do mesmo modo que atribuímos ao Governo a culpa de tudo que há de mal, também lhe atribuímos o mérito de tudo o que há de bem. Em terceiro lugar, este episódio vem inserir-se numa lista mais vasta de falsificações estatísticas, de que saliento as relativas à morte nas estradas e as relativas ao desemprego. Falta saber em quantas mais estatísticas há falsificação.

Acontece que este Governo tem tido uma preocupação especial com os dados estatísticos. E gosta de fazer publicidade com eles. O país acaba, assim, por viver numa grande mentira. Vivemos uma coisa, mas depois aparecem-nos os responsáveis a dizerem-nos que, segundo as estatísticas, as coisas são muito melhores do que aquilo que a gente pensa. Cada português têm, assim, que decidir, muito brevemente, se quer continuar a viver uma grande mentira ou se quer, de uma vez por todas, acabar com estes fogos-fátuos que nos não deixam conhecer o fogo a sério.

Crónica de Magalhães Pinto, publicada em MATOSINHOS HOJE, em 4/8/2009

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