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4.8.09

ISALTINO



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Dir-se-ia que isto já chegava. Afinal, ainda só estamos a 3 de Agosto quando estou a alinhavar estas notas. Mas não. Havia logo que cair hoje a sentença desse homem probo, exemplar, votante na sua família, que não tem nada nem de “silly” do século XV nem de “silly” do século XXI (vide acima). Conhecido por Isaltino. Tino para os amigos. Senhor Doutor para os munícipes. Pá para os empreiteiros da região. 560328 para os bancos suíços. Pois é. Uma sentença que envergonha a Justiça Portuguesa. Então, não há uma única prova contra o homem e condenam-no a sete anos de cadeia, como se ele fosse um carteirista do Cais do Sodré? Os outros perderam todos com a Dona Branca e ele ganhou fortunas. E depois? Ele não é “silly”. Os outros ficam endividados na campanha eleitoral e ele ganhou meio milhão. E depois? Ele é um poupadinho como não há em Portugal. Por isso é que o elegem sucessivamente. A secretária fartou-se de carregar notas para as suas contas. E depois? Uma questão de planeamento familiar: ele juntava notas-macho com notas-fêmea e o casal tinha descendência. Tem milhões num banco suíço. E depois? Queriam que os pusesse no BPP, no BPN ou que os investisse em acções do BCP? Era o que faltava. É que, à frente dessas respeitáveis instituições, estavam pessoas que, como ele, nada tinham de “silly”. Aceitou um terrenito como recordação da sua visita a Cabo Verde? E depois? Nem apreciam o seu sacrifíficio para evitar o conflito diplomático que surgiria do despeito dos cabo-verdeanos se ele não aceitasse. Aliás, bastava um único indicador para absolver o homem. Todas as pessoas de bem têm moral. Ele tem… Morais. É por isso que vai recandidatar-se à Presidência da autarquia do seu coração. Podem prender-lhe uma das morais. Ele terá sempre uma moral especial para presidir à autarquia. E se, porventura, a Justiça Portuguesa persistir neste erro colossal, histórico, de meter na cadeia um homem inocente, puro, de mãos lavadas que nem Pilatos, como ele, nem mesmo assim desistirá. Sempre encontrará, num canto da cela, onde possa receber os amigos – nem que tenha que colocar o balde debaixo da tarimba – e continuar a despachar.

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Excerto da crónica SILLY SEASON, de Magalhães Pinto para VIDA ECONÓMICA - Agosto de 2009

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