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12.8.09

SILLY SEASON


SILLY SEASON

Não sei quem foi o inventor da expressão. Nem, porventura, será de grande interesse do meu Leitor sabê-lo. Mas há classes de pessoas que podemos excluir da possível autoria. Os políticos, por exemplo. Um político não distingue o que é “silly” daquilo que o não é. Muito mais importante do que conhecer a paternidade da expressão, é conhecer qual o seu verdadeiro significado, Vejamos.

“Silly” é um adjectivo do idioma inglês que quer dizer – segundo a Porto Editora - tolo, parvo, pateta, estúpido, burro, imbecil, disparatado, absurdo, simplório. Mas nem sempre foi assim. Consultando-se o Oxford Universal Dictionary, vemos que lá por 1500 - mais ou menos quando nós andávamos aí pelos mares, a descobrir terras onde, algum tempo depois, pudéssemos fazer uma guerra colonial - os ingleses aplicavam o epíteto de “silly” a quem era pobre, merecedor de piedade. E veja-se a coerência do idioma no tempo. Porque só um tolo, um pateta, é que é pobre. Não fosse ele tolo, pateta, e ia para político, deixando de ser pobre. Mas já voltaremos aqui.

“Season” é um substantivo também inglês que quer dizer, segundo a mesma fonte, estação, época, temporada, período, do ano. Mas pode utilizar-se a expressão para designar um período de tempo indefinido, que pode ser superior a um ano. Bons autores ingleses o fizeram. Cito, por exemplo, Carlyle ou Milton. Aqui, por exemplo, podíamos designar todo o tempo que Isaltino Morais leva à frente da Câmara de Oeiras, como a Isaltino Season.

Foi partindo destes conceitos que alguém inventou um novo conceito, a “silly-season”. E que podemos definir como o período de tempo em que, por falta de acontecimentos, só temos conhecimento de acontecimentos tolos, parvos, patetas, burros, imbecis, disparatados. Geralmente, durante os meses de Agosto e Setembro (este ano e em Portugal, temo que Setembro seja mais “silly” do que Agosto). Temos de concordar com que o conceito foi bem esgalhado. Olhemos à nossa volta. Para a corrente silly-season. Teve uma abertura espectacular. Uma espiral de tolices vergonhosas. Poderá haver algo mais tolo do que o Partido Socialista tentar arrebanhar a Joana Amaral Dias, tirando-a do Bloco de Esquerda? Claro que há! Mais tolo do que isso, só o Bloco ter trazido essa sujidade para a praça pública. E haverá algo mais tolo do que isto, também? Claro que sim! Mais tolo do que isso foi José Sócrates ter gritado que era mentira e que exigia desculpas públicas ao Bloco. E será que ainda pode existir algo mais tolo do que isso? Ó Deus! Há! Foi essa do Bloco dizer que quem exigia desculpas era ele. Que saudades eu tenho do século XIX! Podia ser que José Sócrates e Francisco Louçã decidissem a querela num duelo ao amanhecer – podia ser em Monsanto, quando estivesse nevoeiro – e, com alguma sorte, podíamos ter os dois lesionados e calados durante algum tempo, para nossa sanidade mental (sanidade que, como se sabe, é a antítese de “silly”). Deviam era os dois apresentar desculpas ao Povo Português por tanta tolice.

Dir-se-ia que isto já chegava. Afinal, ainda só estamos a 3 de Agosto quando estou a alinhavar estas notas. Mas não. Havia logo que cair hoje a sentença desse homem probo, exemplar, votante na sua família, que não tem nada nem de “silly” do século XV nem de “silly” do século XXI (vide acima). Conhecido por Isaltino. Tino para os amigos. Senhor Doutor para os munícipes. Pá para os empreiteiros da região. 560328 para os bancos suíços. Pois é. Uma sentença que envergonha a Justiça Portuguesa. Então, não há uma única prova contra o homem e condenam-no a sete anos de cadeia, como se ele fosse um carteirista do Cais do Sodré? Os outros perderam todos com a Dona Branca e ele ganhou fortunas. E depois? Ele não é “silly”. Os outros ficam endividados na campanha eleitoral e ele ganhou meio milhão. E depois? Ele é um poupadinho como não há em Portugal. Por isso é que o elegem sucessivamente. A secretária fartou-se de carregar notas para as suas contas. E depois? Uma questão de planeamento familiar: ele juntava notas-macho com notas-fêmea e o casal tinha descendência. Tem milhões num banco suíço. E depois? Queriam que os pusesse no BPP, no BPN ou que os investisse em acções do BCP? Era o que faltava. É que, à frente dessas respeitáveis instituições, estavam pessoas que, como ele, nada tinham de “silly”. Aliás, bastava um único indicador para absolver o homem. Todas as pessoas de bem têm moral. Ele tem… Morais. É por isso que vai recandidatar-se à Presidência da autarquia do seu coração. Podem prender-lhe uma das morais. Ele terá sempre uma moral especial para presidir à autarquia. E se, porventura, a Justiça Portuguesa persistir neste erro colossal, histórico, de meter na cadeia um homem inocente, puro, de mãos lavadas que nem Pilatos, como ele, nem mesmo assim desistirá. Sempre encontrará, num canto da cela, onde possa receber os amigos – nem que tenha que colocar o balde debaixo da tarimba – e continuar a despachar.

Para fechar este curto período da “silly-season” que vai decorrido, só mesmo a intervenção do antigo Presidente do PSD, Marques Mendes, a trazer à memória que foi ele que, arrostando com prejuízos para o seu Partido, decidiu afastar o Tino e o Tim (o Tim, o de Gondomar, é o major para os amigos) do seu universo. Foi mesmo “silly”, este Dr. Marques Mendes. Perdeu duas câmaras. Perdeu as centenas de milhar do financiamento campanhal que os dois podiam arranjar – mesmo que guardassem metade e só dessem a outra metade, ainda era uma boa maquia – e, passado pouco tempo, perdeu mesmo a Presidência do seu Partido. E com essa perda, perdeu ainda a possibilidade de fazer aprovar a sua lei de proibição de candidatura a quem tenha contas com a Justiça. O que um só homem é capaz de perder, só porque se dá ao luxo de ser sério!

Para compensar, o PSD não só recusou discutir agora o dito diploma como, ainda, decidiu integrar nas suas listas dois acusados de ilegalidades. E logo o Partido se envolveu numa querela destruidora. Se faltava alguma coisa “silly” nesta “season”, o PSD não podia ter encontrado melhor do que esta atitude de entregar o ouro ao bandido.
Bom. Acho que já vou longo. Afinal, o meu Leitor está, provavelmente a ler-me bem refastelado na sua cadeira de praia e eu estou a desviar-lhe a atenção dos bronzeados. E desculpe-me este arroubo de escrever algo tão “silly” como a “season”. Afinal, é preciso honrar quem inventou a expressão.

Crónica de Magalhães Pinto, publicada na VIDA ECONÓMICA, em Agosto de 2009

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