O DISCURSO DE ANO NOVO
Não sei se é para valer. Mas o discurso do Senhor Presidente da República no dia de Ano Novo trouxe alguma esperança. Tal como eu havia dito já, neste mesmo sítio, a esperança não nos vem de palavrinhas doces, talvez mais a jeito daquilo que gostamos de ouvir. A única fonte de verdadeira esperança é o confronto da verdade. E, num momento em que sentimos que a saúde do nosso país está seriamente abalada, de nada nos servem médicos que nos dizem que estamos porreirinhos e que basta a gente tê-los por consultores para que os males sejam afugentados. Não é por acaso que os médicos do IPO não escondem, de nenhum doente, que ele está canceroso, se o estiver. Fazem-no porque sabem e esperam que o conhecimento da verdade, por parte do paciente, determinará nele uma vontade forte de combater a doença e, porventura, vencê-la.
Pois foi assim que agiu o Senhor Presidente da República ao dizer-nos o que disse. Falou-nos com uma verdade dolorosa. Mas, quando já estamos cheios de tantas fantasias, de tanto optimismo balofo todos os dias presente na boca de quem nos governa, optimismo que todos os dias também é totalmente desmentido pelos factos, a verdade é a única coisa suportável. E incluo na expressão “em quem nos governa” não apenas o Governo mas também toda a oposição. Mais simplesmente, todos os partidos.
O entendimento entre os partidos é absolutamente necessário. E, na falta desse entendimento, temos razões para a todos censurar. E, nessas censuras, não pode deixar de aparecer em primeiro lugar quem mais forte é. Há falácias no discurso de José Sócrates e do Partido Socialista que é urgente entender e desmontar. A primeira é, dizem eles, que estão inteiramente disponíveis para governar, mas segundo o programa com que se apresentaram ao eleitorado nas últimas eleições. Como se os Portugueses não tivessem dito, claramente, nessas eleições, ao retirarem ao PS a maioria absoluta de que dispunha na Assembleia, que queriam tal programa condimentado com a vontade do resto da oposição. A segunda, é que José Sócrates costuma dizer que não pode o Governo governar com um orçamento da Assembleia da República. Escondendo deliberadamente que todos os Governos, maioritários ou não, governam com orçamentos da Assembleia da República. Sem a aprovação da dita, nenhum orçamento do Estado pode ser executado, seja qual for o Governo. O que ele não pode esperar é que uma Assembleia aprove, de olhos fechados, aquilo que o Governo lhe submete, por lei, para aprovação. Isso só é feito, muitas vezes, quando o Partido do Governo tem maioria absoluta. E, mesmo assim, está mal.
Esperemos, pois, que a humildade chegue aos socialistas. Se assim for, talvez seja mais fácil caminhar para vencer a crise.
Magalhães Pinto, em RADIO CLUBBE DE MATOSINHOS, em 5/1/2010
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