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30.3.08

OS HERÓIS E O MEDO - 218º. fascículo


(continuação)

Na igreja, ficam depositados os mortos, até serem transportados, numa viatura, para Bissau. Primeira etapa duma longa e solitária viagem, cuja estação final está num cemitério ignorado em Trás-os-Montes, no Alentejo ou nos Açores. É nessa igreja que os homens mais sensíveis se despedem dos camaradas com final de comissão antecipado. Duas lamparinas tremelicam, suspensas, porventura medrosas da solidão na companhia de cadáveres. No meio, caixas de madeira sem arrebiques, sem fantasias, sem cromados, sem cetins, sem veludos, contêm os restos mortais duma juventude inacabada.

No café, explorado pelo Clube de Futebol Os Balantas, junta-se toda a malta quando chega o serão. Falam de férias os que podem juntar os seis contos da passagem aérea, ida e volta, à Metrópole, no avião das quartas-feiras. Falam da redução do tempo de comissão os ingénuos, desconhecedores de serem tais boatos postos a circular propositadamente para enganar o moral das tropas. Falam do regresso os mais optimistas, perdendo de vista que muitas vezes há-de ainda mudar a água do Geba antes de tal suceder. Os mais recatados ou distraídos ocupam o tempo a matar os mosquitos vorazes de sangue que começam a atacar ao anoitecer.

(continua)
Magalhães Pinto

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