(continuação)
Esta guerra não conduz a nada, afirmou a certa altura o segundo comandante, o major Glória Marques. António Soveral decidira-se a intervir nessa altura. Não era bem assim, disse ele. Era supremamente importante ganhar a confiança da população civil, especialmente dos nativos. Aí assentava a esperança de ganhar a guerra. Na imagem dos brancos formada no espírito dos nativos. Era necessário concentrar a acção na criação da ideia de que os brancos significavam segurança, paz, tranquilidade. E que os guerrilheiros, pelo contrário, eram a instabilidade, a desordem, a guerra, a morte. Era necessário insistir na mensagem de estarem os guerrilheiros a soldo de estrangeiros, cuja cobiça teria por resultado a exploração das pessoas, a sua redução a uma nova escravatura. Era necessário erradicar da memória daquelas gentes os erros do passado, a mobilização forçada dos nativos para apararem o capim na margem das estradas a troco de umas migalhas, os trabalhos forçados da sua submissão. Era necessário tratá-los como gente, como pessoas. Muito do que estamos a passar, continuou ele, resulta do tratamento injusto das populações pelos civis brancos, pelos colonizadores. Desde as descobertas, estes tinham-se assumido como superiores e desrespeitado os direitos humanos. Não chegava aceitar a organização social e as crenças das diferentes etnias. Era preciso evitar toda a violência sobre as populações, sobretudo a moral, a exploração da sua subserviência, do seu trabalho, da sua inferioridade face a homens em armas. Os nativos eram os mais sacrificados naquela guerra. Apareciam os guerrilheiros, mandavam, raptavam jovens para os seus bandos, roubavam arroz e animais. Vinha depois a tropa e, na presunção de ter havido colaboração com os guerrilheiros, batiam, castigavam e, como no caso da primeira operação do Soares da Cunha, até matavam. Era imperioso modificar esta atitude.
(continua)
Magalhães Pinto
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