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30.3.08

OS HERÓIS E O MEDO - 219º. fascículo

(continuação)

A rotina é destruída em certos dias. Vão ao café as mulheres de Mansoa. Também vão sempre ao cinema. Excluindo as mulheres de alguns oficiais e sargentos, são cinco, ao todo, as mulheres públicas de Mansoa. Públicas por participarem da diminuta vida social. São fadas eróticas das vigílias quentes de cerca de duzentos homens. A mulher do administrador civil, loira avantajada, de seios fartos, a acender labaredas de concupiscência no olhar de homens esfomeados de sexo. As duas filhas do João Ribeiro, o dono do tasco. Negras retintas, de carapinha espessa, são corpos esculturais na pujança da juventude. E as duas filhas solteiras da Emília Sá, esquálidas cabo-verdeanas, enfezadas, peitos lisos como tábuas de engomar, mas apresentando sobre as outras vantagens relativas esmagadoras. São solteiras. São livres. São sociáveis. E têm a tez quase branca. No café, sentam-se quase sempre na mesa do Mário, do Álvaro e do Manel. Os dois primeiros sabem ser a brincadeira permanente do Manel a atraí-las. Galanteador e bem falante, ele põe a cabeça das duas raparigas à roda. Elas sonham, escanzeladas raínhas de festa que são, ter encontrado nele modo de escapar ao primitivismo africano e alarem para sítios mais civilizados, de prédios altos e automóveis na rua, de lojas cheias e restaurantes de luxo, idênticos aos vistos nas fitas de cinema.

(continua)
Magalhães Pinto

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