A imagem de que hoje praticamente todos os políticos desfrutam é muito má. Muito por culpa própria, mas também devido a este estilo maldizente que é atávico em nós. Político é associado a mentiroso, corrupto, preguiçoso, gastador, mau pagador, hipócrita. É claro que isto é um exagero. Político é funcionário público. E, no conjunto dos políticos, não encontraremos nem melhor nem pior do que há no conjunto de todos os funcionários públicos. Uns melhores, outros piores. Uns verdadeiros, outros mentirosos. Uns sérios, outros corruptos. Uns trabalhadores, outros preguiçosos. Uns avaros, outros mãos largas. Quanto ao pagar, são quase todos caloteiros. Uns seguem os ditames da alma, outros disfarçam-nos quanto podem. Vou mais longe e afirmo que poderíamos mesmo dizer que, no seu conjunto, os políticos tenderão a reflectir as virtudes e os defeitos que, enquanto povo, todos temos. Melhor, sempre temos tido. E, não obstante esse facto, os cidadãos estão permanentemente à espera de que chegue ao Poder o homem perfeito e honesto, uma espécie de santo disposto a servir e a não servir-se. O fenómeno do sebastianismo não é senão o eterno desejo que o povo sente de encontrar aquilo que ele próprio não é. Só que não surgem sebastiões se eles estão mortos, melhor, se nunca nasceram.
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Excerto da crónica SE... - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 24/4/2006
(Imagem: ilustração da capa do livro de Alice Rey Colaço CONTOS DA NOSSA TERRA)
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