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22.4.08

OS HERÓIS E O MEDO - 242º. fascículo

(continuação)

XXX

Mário saiu do quartel. Como habitualmente, dirigiu-se ao bar dos Balantas, para a cavaqueira do costume, a anteceder o jantar. Ao passar na porta de armas, gemidos vindos da guarita atraíram a sua curiosidade. Entrou. De mãos atrás das costas, algemado, preso a uma argola, corpo alquebrado mal coberto pelos restos duma túnica a deixar ver, a espaços, a simetria dos ossos sob a pele negra e baça, queixo descaído sobre o peito, crostas sanguinolentas a desenharem, no que fora um rosto, pinceladas de surrealismo, estava um homem. Dos lábios roxos, ressequidos, que os lábios pretos também ficam dessa cor à força de pancada, sumiam-se alguns sons guturais. Mário adivinhou, mais do que percebeu, serem uma súplica de água. Um arrepio percorreu a espinha dorsal do militar português. Raios partam aquele Xerifo Camará! Desgraçado prisioneiro caído nas mãos. Nem a alma ficava inteira.

(continua)
Magalhães Pinto

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